Trinta moradores de rua de Vila Velha viciados em crack serão internados em comunidades terapêuticas nos próximos dias. O tratamento desses dependentes será custeado por líderes religiosos do município, que vão "apadrinhar" essas pessoas. Agora, só será internado quem aceitar tratamento, mas a prefeitura assegura que fará internações compulsórias - contra a vontade do paciente - já nos próximos meses, inclusive numa instituição do próprio município, que vai funcionar na área de Xuri, zona rural da cidade.
A iniciativa do município de criar padrinhos para moradores de rua usuários de crack já rendeu frutos. Há vários voluntários confirmados. Nesta semana, a ideia foi apresentada a líderes religiosos em duas reuniões. A intenção, segundo o secretário de Defesa Social do município, Ledir Porto, é que os "padrinhos" ofereçam apoio financeiro e acompanhamento aos dependentes.
O custo médio mensal de cada "apadrinhado" é de R$ 800,00. Além do apoio financeiro, os padrinhos também vão assumir o compromisso de reinserir essas pessoas na sociedade. "Os padrinhos vão acompanhar o tratamento, que dura, no mínimo, 120 dias. Depois, vão levá-los à igreja, ajudá-los a conseguir emprego e a recuperar o contato com suas famílias", diz Ledir Porto.
Nos próximos dias, a prefeitura vai realizar uma ação para retirar esses usuários das ruas. "Após a abordagem inicial, eles serão levados para um centro de triagem, onde serão acolhidos, cadastrados e orientados sobre as possibilidades de tratamento. Quem aceitar será encaminhado para tratamento nas comunidades terapêuticas", adiantou Porto.
As famílias dos usuários de crack também serão procuradas e convidadas a acompanhar o tratamento.
Internações
Já as internações compulsórias devem começar no início de 2012. "A internação é mais eficaz, pois tira o dependente da rua. Vamos pedir autorização das famílias e até recorrer à Justiça para internar essas pessoas", destaca o secretário.
Para tornar essas internações realidade, a prefeitura vai inaugurar, no primeiro semestre de 2012, a primeira comunidade terapêutica para tratamento de dependentes químicos. A unidade vai funcionar em Xuri e será totalmente mantida pelo município. O local terá 30 vagas para homens e mulheres que aceitarem, voluntariamente, sair das ruas para serem tratados.
O município também planeja abrir uma casa de acolhida, que deve começar a funcionar no início do próximo ano, em Guaranhuns, Vila Velha. Com capacidade para 30 pessoas, receberá moradores de rua internados compulsoriamente. Esses homens e mulheres ficarão na casa por até 30 dias e depois serão transferidos para a comunidade terapêutica.
300 dependentes - É o número estimado de viciados que vivem hoje nas ruas de Vila Velha.
30 vagas em clínicas - São quantos viciados serão apadrinhados e internados em comunidades terapêuticas do Estado.
"O Conselho Estadual dos Direitos Humanos é contra à internação compulsória de dependentes químicos moradores de rua. Essa internação fere o princípio da dignidade humana. Hoje, existem várias políticas para dependentes de drogas em situação de rua, e nós defendemos que esse problema seja tratado como uma questão de saúde pública e
não como se fosse caso de polícia."
Entenda
Padrinhos
Líderes religiosos recrutados pela prefeitura vão oferecer apoio financeiro e emocional aos usuários
Apadrinhados
Usuários de crack que vivem nas ruas de Vila Velha. São cerca de 300, segundo o município
Internação
Inicialmente, será opcional. Só será obrigatória após a inauguração da casa de acolhida e da comunidade terapêutica que o município manterá
Tratamento
Dependentes serão internados em comunidades terapêuticas localizadas em Vila Velha, Serra, Cariacica, Castelo e Cachoeiro de Itapemirim
A FAVOR
Risco à sociedade
João Chequer, médico especialista em dependência química
"Defendo a internação compulsória para dependentes em situação de rua, pois eles representam risco à sociedade e a si próprios. Porém não basta só retirá-los das ruas. É preciso oferecer tratamento adequado, digno, em locais com infraestrutura e profissionais capacitados. Porém, para internar compulsoriamente, é preciso amparo jurídico. Também é necessária a participação da família."
CONTRA
Dignidade Humana
Gilmar de Oliveira, presidente do Conselho Est. dos Direitos Humanos
"Defendo a internação compulsória para dependentes em situação de rua, pois eles representam risco à sociedade e a si próprios. Porém não basta só retirá-los das ruas. É preciso oferecer tratamento adequado, digno, em locais com infraestrutura e profissionais capacitados. Porém, para internar compulsoriamente, é preciso amparo jurídico. Também é necessária a participação da família."

Nenhum comentário:
Postar um comentário