quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CORRUPÇÃO CAPIXABA S.A: GOVERNO HARTUNG. Ex-presidente do Banestes é acusado de desfalque milionário em ações de falência

 

Nerter Samora - Foto capa: Thiago Guimarães/Secom
O ex-diretor jurídico e ex-presidente do Banestes Paulo Roberto Mendonça França está sendo denunciado na Justiça por fraudes milionárias na gestão de massas falidas. Figura importante no mundo político e jurídico, Paula França acabou destituído do cargo de síndico das massas falidas da Braspérola, HSU Comercial (Eletrônica Yung) e da empresa de consórcios Adec. Uma auditoria independente realizada nas contas das massas falidas revelou que os desfalques teriam ultrapassado a marca de R$ 4 milhões.

Nesta quarta-feira (28), o juiz da Vara de Falências e Sucessões de Vitória, Ademar João Bermond, determinou a remessa de cópias do processo para o Ministério Público Federal (MPF), Receita Federal e Procuradoria da Fazenda Nacional. De acordo com o edital, publicado no Diário da Justiça, esses órgãos serão responsáveis pelas próximas providências sobre o caso, como o ajuizamento de uma ação penal contra o ex-síndico. O advogado tem cinco dias para apresentar suas alegações.

Conhecido pela atuação em grandes casos de falência, a conduta do advogado Paulo França foi considerada “altamente temerária” na administração de bens e interesses das massas falidas. O juiz Ademar Bermond indicou a não comprovação de pagamentos de honorários, a utilização de documentos sem idoneidade para comprovar despesas, além da emissão de cheques nominais – da massa falida – que foram sacados na boca do caixa, sem o devido respaldo do juízo.

Paulo França atua nos casos ao lado da mulher, a advogada Sueli de Paula França, que representa os interesses das massas falidas administradas pelo marido em ações judiciais. O advogado tem história ligada ao grupo do ex-governador Paulo Hartung, que o nomeou diretor financeiro e jurídico do Banestes no ano de 2008. No ano seguinte, França presidiu o banco estatal num momento-chave, quando foi discutida a mal fadada operação de venda do Banestes.

A auditoria foi realizada pela empresa Partners Auditores Independentes, que foi designada como síndica das massas falidas envolvendo o advogado. “Embora a lei não imponha nenhuma restrição, é de bom alvitre que essa empresa, substitua o destituído nas falências em que este atua, haja vista a confusão verificada na administração das falências”, narra um dos trechos da decisão que destituiu o advogado da Adec, publicada no final de agosto.

Fraudes
Na gestão da massa falida da Eletrônica Yung, Paulo França é acusado de omitir valores na prestação de contas – durante os dez anos em que atuou. Segundo o juiz, chamou a atenção da auditoria que em duas operações – uma de aluguel e a outra do registro de venda de uma área – a diferença entre as receitas e o valor declarado foi de R$ 215.928,83.

Foram encontrados também saques de R$ 1.337.090,18 nas contas correntes da massa falida sem registro do destino. Pesa ainda contra o ex-síndico o recebimento de R$ 258.700,00 em alugueis do Instituto Dom Bosco sem que o valor tenha sido depositado na conta da empresa.

Segundo a auditoria, o total de receitas apontadas na prestação de contas da Yung foi de R$ 4,67 milhões, enquanto os valores suspeitos de desvios pelo ex-síndico chegam R$ 1,8 milhão. Entretanto, os desfalques podem chegar a R$ 2,7 milhões. Paulo França também é acusado de gastos não comprovados no total de R$ 1,78 milhão relativos à gestão da massa falida da Braspérola, onde o advogado atuou por seis anos.

Um outro episódio grave envolvendo Paulo França ocorreu na gestão da massa falida da Adec, administradora de consórcio que deixou centenas de pessoas sem os bens e cuja falência foi decretada em 2004. Neste caso, o ex-síndico é acusado do extravio de 60 autos de habilitação de crédito. Foram apontados ainda gastos de R$1.637.669,99 sem justificativa plausível.

Provocação
Além dos problemas de má gestão, o ex-presidente do banco estadual foi acusado pelo juiz da Vara de Falência de ter “agredido àquele juízo”. O protesto se deve ao fato de Paulo França ter respondido a uma notificação do juízo para que apresentasse documentos idôneos sobre despesas com o envio de várias caixas de documentos. Só que, das 84 caixas, apenas uma trazia documentos referentes à gestão após a falência – ainda assim com papeis sem idoneidade, como recibos, e misturados com documentos de outras massas falidas administradas por ele.

“É relevante registrar que o referido síndico exerceu recurso contra decisão deste Juízo que tornou insubsistente a compra e venda judicial do imóvel onde se situava aquela fábrica no município de Cariacica e, não satisfeito com a determinação de apresentar documentos idôneos na falência, representou este juiz na Corregedoria de Justiça, sem qualquer justa causa, o que revela de forma inequívoca que o síndico entrou em rota de colisão, não com este juiz, mas com o próprio Poder Judiciário”, apontou.

Na mesma decisão, o juiz Ademar Bermond aponta que o ex-síndico agia “como presidente do processo falimentar, colocando-se numa posição imune à fiscalização”. Para tanto, o magistrado cita que Paulo França realizava gastos sem qualquer autorização judicial, movimentava contas bancárias “à volonté” e emitia cheques sem visto do juiz. Pela legislação, o administrador judicial atua neste tipo de processo como mero auxiliar da Justiça.

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