sexta-feira, 29 de julho de 2011

ES: "Espólio de um Déspota". Siderúrgicas que usavam carvão são embargadas após denúncia de máfia

TV Vitória
Foto: Reprodução TV Vitória
Quatro siderúrgicas que usavam carvão do Espírito Santo foram embargadas depois de denúncias da TV Vitória de que um esquema corrupto acontecia no Estado, em Minas Gerais e na Bahia. As multas chegaram a R$ 56 milhões. Mais de mil toneladas de ferro gusa e quase três mil metros de carvão foram apreendidos e 39 pessoas foram detidas. O Ministério Público acredita que, com isso, desmontou a cadeia produtiva de carvão ilegal.

 

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As empresas estão proibidas de continuarem transportando carvão. Caso contrário, terão os caminhões apreendidos. A decisão é da Justiça de Minas Gerais, que atendeu a um pedido do Ministério Público do Estado. As liminares foram concedidas dois dias depois da reportagem da TV Vitória que denunciou, em rede nacional, um esquema corrupto de produção e transporte de carvão, que explora o trabalho infantil e movimenta o tráfico de drogas e a prostituição. O Ministério Público do Trabalho também atualizou a lista de empregadores suspeitos de se valerem de condições escravas: incluiu uma fazenda em Alegre e outra em São Mateus.
 
Os alvos foram empresas, agenciadores, transportadores e produtores de carvão. Muitos deles foram denunciados pela reportagem da TV Vitória. 
 
O caso
As reportagens do jornalista Alex Cavalcanti revelaram um verdadeiro submundo do crime organizado. Ele percorreu os caminhos de uma das maiores organizações criminosas do Estado. Exploração infantil, trabalho escravo, tráfico de drogas, crimes ambientais e sonegação fiscal foram revelados nos bastidores de um universo quase infinito de crimes.
 
Durante vários meses, a equipe da TV Vitória registrou a indústria do crime. Por trás de um esquema bilionário, que enriquece poucos, existe uma teia criminosa, que vai da exploração infantil ao tráfico de drogas, do trabalho escravo à sonegação fiscal, e que deixa para trás um rastro de milhares de vítimas.
 
Vítimas como dois meninos, de apenas oito anos, que já precisam lutar pela sobrevivência e ajudam as famílias a produzir carvão. Um trabalho duro, cansativo, que compromete a saúde e o desenvolvimento. Sem folga, eles passam o dia inteiro nos fornos, que tem o tamanho exato para uma criança. Um dia inteiro de trabalho rende para esses meninos pouco mais de R$ 7. "Para fazer esse forno eles trabalham mais ou menos um dia para ganhar R$ 13, que dá menos de R$ 7 para cada menino", disse um trabalhador.
 
A fumaça negra leva embora a infância, os sonhos e a saúde. O decreto número 6.481, de 2008, aponta o trabalho em carvoarias como uma das atividades mais perigosas e prejudiciais para crianças e adolescentes.

"Você não percebe, mas, ao ser queimada, a madeira vai soltando partículas que vão se instalando dentro da estrutura pulmonar e também nos brônquios, que podem gerar futuramente algumas doenças como a fibrose pulmonar. Depois de instalada, é como se o pulmão fosse se tornando um pulmão de pedra", explicou a pneumologista Cinéia Martins.

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