domingo, 19 de junho de 2011

ES: Falta de mão de obra já afeta a qualidade do café. Trabalhadores da Bahia não têm vindo mais. A ampliação do Bolsa-Família também prejudica o setor

foto: Divulgação
Produção de café conilon bate recorde
A escassez de mão de obra  está cada vez mais acentuada, porque os trabalhadores estão indo para outros segmentos
Rita Bridi
rbridi@redegazeta.com.br


A implantação de lavouras cafeeiras em extensas área no Sul da Bahia e a ampliação do programa Bolsa Família estão contribuindo para acentuar a escassez de mão de obra, no período da colheita, agravando um problema enfrentado, há décadas, por cafeicultores capixabas.

O crescimento de outras atividades, como confecções, rochas ornamentais e petróleo, também contribui para reduzir a disponibilidade de mão de obra temporária.

A colheita do conilon, pela falta de mão de obra a colheita do conilon, que normalmente termina no início de julho, vai se estender até o início de agosto em algumas propriedades. O lado negativo da demora é que o café que seca na planta fica suscetível ao aparecimento da broca, que perfura o grão e reduz a qualidade do produto.

O presidente da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), Antônio Joaquim de Souza Neto, diz que o problema se agrava a cada ano. Muitos trabalhadores que em anos anteriores deixavam a Bahia em busca de trabalho temporário nas lavouras de café do Espírito Santo, estão optando por trabalhar no próprio Estado nordestino.

É que muitos cafeicultores, inclusive do Espírito Santo, escolheram o Sul da Bahia para plantar café conilon em substitutição ao cacau, dizimado pela praga da vassoura-de-bruxa.

Bolsa-Família
Outro fator contribui para reduzir a oferta de mão de obra é a ampliação do Bolsa-Família. As pessoas inscritas no programa perdem o benefício se tiverem a carteira de trabalho assinada. Entre o emprego temporário e a manutenção do benefício, elas optam pela primeira alternativa.

O presidente da Federação da Agricultura no Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha da Silva, confirma a dificuldade de contratar mão de obra para a colheita do café. A mesma situação, destaca, é constatada em Minas Gerais. Com a proibição de trabalhadores temporários sem vínculo trabalhista, as dificuldades aumentam, destaca.

Segundo o presidente da Faes, a escassez de mão de obra no meio rural está cada vez mais acentuada, porque os trabalhadores do meio rural estão sendo absorvidos em outros segmentos da economia do Estado.

Colheita mecanizada será testada também no conilon
Na tentativa de reduzir os impactos da falta de mão de obra na colheita do café, o governo estadual, por meio da Secretaria de Agricultura e do Incaper, está fechando parceria com duas empresas e com um produtor de café conilon. O produtor reservou uma parte da lavoura para que os técnicos testem as máquinas que serão adaptadas para a colheita mecânica do conilon.

Os equipamentos disponíveis no mercado, como derriçadeira ou mãozinha derriçadeira, são utilizados na colheira do arábica, que tem os grãos menos apegados à planta e são derrubados com maior facilidade. Para o conilon, no entanto, o resultado do uso do equipamento não é bom porque os grãos, mais agarrados à planta, não caem com facilidade.

A ideia da parceria, segundo o secretário estadual de Agricultura, Enio Bergoli, é fazer as adaptações nos equipamentos para que os cafeicultores possam mecanizar também a colheita do conilon. Os resultados, antecipa, serão um pouco demorados.

A mãozinha derriçadeira, explica o secretário, está sendo utilizada pelos agricultores familiares cujas lavouras ficam em terrenos inclinados. O equipamento, que custa entre R$ 900,00 e R$ 2 mil, pode substituir até cinco pessoas na colheita do arábica.

Nas lavouras que estão em terrenos planos, a colheita, em muitas propriedades, já é mecanizada com o uso de máquinas que colhem o café o transportam das lavouras para os secadores. O equipamento, que custa em torno de R$ 500 mil, é utilizado nas lavouras de maior porte.

O gargalo da falta de mão de obra na colheita será solucionado mais rapidamente nas lavouras de arábica, com a utilização dos equipamentos já diponíveis. A mecanização na colheita do conilon será mais demorada com a necessidade de adaptação dos equipamentos. Os testes já realizados demonstraram que mesmo com a utilização da derriçadeira os grãos do conilon não se soltam dos galhos.

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