Reportagem de ontem de O Globo mostrou que o governo federal executou só 0,5%
do programa “Minha Casa, Minha Vida” e que a liberação de recursos para
algumas das principais promessas de Dilma Rousseff para este ano não
chega a 10%. Vocês já cansaram de ver a lista e a conta neste blog,
certo?
Se vocês clicarem aqui,
encontram uma lista de links para textos que tenho escrito a respeito
desse assunto desde, atenção!, 31 de janeiro deste ano. “Pô, Reinaldo, a
mulher estava no poder havia apenas 31 dias, e você já estava cobrando
cumprimento de promessas?” Não! Naquele texto, tratei das promessas que ela já não havia cumprido como “gerentona” do governo Lula e listei aquelas que ela certamente não cumpriria como presidente — ou melhor: não cumprirá.
Além de 2
milhões de casas até 2014 (e vocês têm de se lembrar do outro milhão
anunciado no governo Lula), a presidente prometeu para este ano:
3.288 quadras esportivas em escolas;
1.695 creches;
723 postos de policiamento comunitário;
2.174 Unidades Básicas de Saúde;
125 Unidades de Pronto Atendimento.
1.695 creches;
723 postos de policiamento comunitário;
2.174 Unidades Básicas de Saúde;
125 Unidades de Pronto Atendimento.
Pois bem, no
“Minha Casa, Minha Vida”, executou-se apenas 0,5% do previsto; nos
demais casos, a liberação não chega a 10%. Já demonstrei hque, no ritmo que o governo federal entrega as casas,
serão necessários 26 anos para cumprir a promessa dos 3 milhões de
moradias. Ontem, a Folha noticiou que, na base da pura canetada, a
Infraero aumentou o número de passageiros/ano dos 13 aeroportos da Copa
em estupendos 107 milhões. Foi assim, num estalo de dedos: “Ooops,
erramos as contas!”
Ruim de serviço
A verdade insofismável é que Dilma é ruim de serviço pra chuchu. Já era, não custa lembrar.
A verdade insofismável é que Dilma é ruim de serviço pra chuchu. Já era, não custa lembrar.
1 -
Foi a gerentona no governo Lula e assistiu impassível ao
estrangulamento dos aeroportos. Nada fez! Ou melhor, fez, sim, uma coisa
muito ruim: bombardeou as propostas de privatização. Depois teve de
correr atrás do capital privado, na bacia das almas.
2 - O marco regulatório que inventou para a
privatização das estradas federais enganou o Elio Gaspari direitinho — e
todos os “gasparzinhos” que tentam imitá-lo—-, mas não conseguiu fazer o
óbvio: duplicar rodovias, melhorar o asfalto, diminuir o número de
vítimas. Cobra um pedágio “barato” para oferecer serviço nenhum. Ou
seja: é caro demais! Um fiasco completo!
3- O Brasil foi escolhido para a sede da Copa do Mundo
há 47 meses. Em apenas nove, de abril a dezembro de 2010, ela esteve
fora do governo. Era a tocadora de obras de Lula e é a nº 1 agora. E o
que temos? Seu governo quer uma espécie de AI-5 das Licitações para
fazer a Copa. Quanto às obras de mobilidade, Miriam Belchior entrega o
jogo: melhor decretar feriado.
4 - Na economia, há um certo clima de barata-voa. Posso
não compartilhar das críticas, a meu ver exageradas, ao corte de meio
ponto nos juros estratosféricos, mas isso não quer dizer que eu note um
eixo no governo. A turma me parece até um tantinho apavorada. A elevação
do IPI dos carros importados é um sinal de que estão seguindo a máxima
de que qualquer caminho é bom para quem não sabe aonde vai. A Anfavaea
foi mais eficiente no lobby. Cumpre aos outros setores fazer também o
seu chororô. O único que vai perder é o consumidor…
5 - Na seara propriamente institucional, Dilma deixa
que prospere o debate da reforma política como se ela não tivesse nada
com isso. Parece Obama referindo-se aos políticos como “o pessoal de
Washington”. Ela poderia dizer: “O pessoal de Brasília”…
6 - Abaixo, Ideli Salvatti, ministra das Relações
Institucionais, afirma que o governo vai tentar, sim, um novo imposto
para financiar a Saúde — a presidente prometeu de pés juntos que o
governo não recorreria a esse expediente.
7 - As promessas na área social para seu primeiro ano
de governo naufragaram, como se vê acima. Não vai entregar as UPAs, as
quadras, as casas, os postos policiais…
Não
obstante, a presidente tem angariado algumas simpatias mesmo em setores
não exatamente entusiasmados com o petismo. É compreensível. A
gigantesca máquina de propaganda, como sempre, atua com grande
competência. Mas não responde sozinha pelo “sucesso”. A oposição no
país, excetuando-se alguns guerreiros isolados, é sofrível, beirando o
patético. Tornou-se refém dos pedidos de investigação das denúncias de
corrupção. Como a presidente pôs na rua alguns valentes, mais fatura ela
com a “faxina” dos que seus adversários com as acusações. Falta uma
agenda — quando não sobra, sei lá como chamar, “adesismo tático” que se
finge de estratégia.
O que pensam
mesmo sobre as ações do governo os candidatos a líderes do PSDB? Parece
que, no momento, organizam um seminário, ou coisa assim, para exumar as
virtudes do Plano Real e coisa e tal. Eu sou o primeiro a afirmar, e o
faço há uns 10 anos, que as conquistas do governo FHC têm de ser
exaltadas — mas daí a transformar em aríete da luta política vai uma
grande diferença. Como fica claro, é uma batalha que vem com 10 anos de
atraso. O partido espera apresentar uma resposta para os problemas de
2011 quando? Em 2021? O DEM tem espasmos de acerto aqui e ali, mas
consegue ser mais notícia tentando criar dificuldades para o PSD do que
facilidades para si mesmo.
Como Dilma
pode estar cercada de incompetentes, mas não de estúpidos — longe
disso!—, percebeu que o desgaste junto ao tal “povão”, se vier, está
distante, com o país funcionando quase a pleno emprego e ainda
consumindo bem. A inflação preocupa, sobretudo porque é visível que eles
não sabem o que fazer, mas nunca ninguém viu massas saindo às ruas por
causa de 6,5% ou 7%. Como disse a ministra Ideli Salvatti na entrevista
ao Estadão (ver abaixo), “a gente vai levando…” Os chamados setores
médios estão sendo conquistados pela pose de austera da soberana, por
seu decoro no poder — que é real se comparada a seu antecessor — e por
não endossar certas boçalidades da tropa de choque lulo-petista no
subjornalismo. Na ONU, ao falar de seu compromisso com o combate à
corrupção, exaltou, e com justiça e justeza, o trabalho da imprensa —
aquela mesma que a ala metaleira do PT quer debaixo de chicote.
Assim, uma
das “virtudes” de Dilma consiste em não ser uma especuladora, não
pessoalmente ao menos, contra as instituições, como é Lula. É claro que,
estivéssemos com os meridianos democráticos bem-ajustados, a defesa que
o Apedeuta fez, em pleno Palácio do Jaburu, de uma Constituinte só para
fazer a reforma política — tese de óbvio sabor chavista — requereria
uma fala da Soberana. Mas dela nada se cobra. Do mesmo modo, teria de
falar se endossa o financiamento público de campanha do modo como o
propõe seu partido: uma patranha para encher os cofres do PT e
estrangular a oposição. Nada! Parece que o país em que se debate a
reforma política não é aquele que ela preside.
Lá com os
seus botões, Dilma deve pensar: “Governar o Brasil é bolinho; nem é
preciso acertar. Eenfrentar a oposição é fácil; difícil é aturar a base
aliada”…
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