
Flávia Milhorance (flavia.milhorance@oglobo.com.br) e Rafaela Santos (rafaela.santos@oglobo.com.br)
- Os PMs efetuaram vários disparos contra o ônibus na Voluntários da Pátria, e três deles acertaram o coletivo. A intenção era furar os pneus, já que os tiros atingiram áreas próximas a eles - disse o delegado adjunto da 12ª DP (Copacabana), Bruno Gilabert.
É a segunda vez, em menos de dois meses, que a polícia erra o alvo dos disparos. No dia 9 de agosto, PMs atingiram a lataria de um ônibus onde havia vítimas de um sequestro, na Avenida Presidente Vargas, no Centro .
Pedro Henrique conseguiu percorrer 23km com o veículo, em alta velocidade, do Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, onde ocorreu o furto, até Botafogo, onde foi interceptado por policiais militares. A PM foi alertada por fiscais ainda no terminal e diz que entrou em ação logo que foi acionada. A corporação afirma que só interceptou o ônibus em Botafogo porque foi o local onde teve mais facilidade para fazer o cerco com segurança.
O jovem foi encaminhado na segunda-feira à Polinter do Grajaú, depois de passar a noite na 12ª DP (Copacabana) . Ele deixou a delegacia sem prestar depoimento, orientado pelo advogado, que pedirá sua transferência para um hospital penitenciário. A alegação do escritório de advocacia Fragoso, responsável pelo caso, é que Pedro Henrique sofre de problemas psiquiátricos, agravados depois da morte da mãe, em 2005. Além disso, há mais de um ano, ele toma remédios controlados. Ainda segundo o escritório, no laudo do Instituto Médico-Legal (IML), consta que o jovem não estava sobre a influência de álcool ou drogas. A informação é negada pelo delegado Gilabert:
Os peritos apontaram sinais de embriaguez no jovem. O laudo é inconclusivo porque ele se recusou a fornecer material para a realização do exame que apontaria o consumo de drogas ou álcool.
Apesar de Pedro Henrique ter se recusado a fazer o exame, a delegada titular da 12ª DP, Cristiana Honorato, diz que isso não comprometerá a investigação:
- O relato de testemunhas pode suprir a falta de um exame pericial num processo penal.
Na segunda-feira foram ouvidas nove pessoas que registraram queixa contra o jovem, todas por terem seus veículos danificados. Além delas, prestou depoimento o pai do estudante, Rui Correia dos Santos.
- Ele disse que o filho bebia muito, e que a mistura com antidepressivo pode ter causado o problema - disse a delegada.
Idoso ferido pode ficar paraplégico
Também compareceu à 12ª DP o administrador Antônio André Monteiro Maia, filho do corretor de imóveis Antônio Horta, de 67 anos, cujo carro foi atingido pelo ônibus:
- Quando acontece uma barbárie desta, apela-se sempre para os problemas mentais, só que eu acredito, neste caso, em irresponsabilidade.
O idoso foi gravemente ferido e pode ficar paraplégico. Ele foi transferido do Hospital Municipal Miguel Couto para o Hospital Silvestre. Segundo a assessoria da unidade, Horta passou por uma cirurgia para a fixação da coluna. O quadro de saúde dele é estável.
O Tribunal de Justiça informou que na tarde de segunda-feira a 4ª Vara Criminal recebeu a comunicação da prisão em flagrante. O processo será despachado hoje por um juiz. Pedro Henrique será indiciado por homicídio simples, crime tentado, lesão corporal grave e leve, resistência e dano qualificado. Imagens de câmeras da CET-RIO já foram pedidas pela polícia.
O jovem já tem passagens pela polícia. Em 17 de abril de 2003, em caso registrado na 10ª DP (Botafogo), ele foi indiciado por injúria, violação de domicílio e dano.
- Ele e outros três jovens arrombaram a janela de um salão de festas de um prédio na Rua Álvaro Ramos e xingaram porteiro e zelador - informou a delegada Daniela Terra.
No dia 26 de junho deste ano, ele foi indiciado por porte de drogas. O caso foi registrado na 14[ DP (Leblon).
- PMs o abordaram na Autoestrada Lagoa-Barra e encontraram 12 trouxinhas de maconha - contou o delegado Gilberto Ribeiro.
Antes de deixar na segunda-feira a delegacia de Copacabana, Pedro Henrique tirou a fantasia do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) que tinha usado numa festa na noite de sábado. Ele vestia um casaco de moletom cobrindo a cabeça. Segundo a delegada Cristiana Honorato, o jovem queria se tornar policial.
- Ele disse que o sonho dele era ser delegado. Ele pode ter estragado tudo - comenta.
Um amigo de Pedro Henrique, que pediu anonimato, contou que ele estaria arrependido.
- Pedro disse que passou frio à noite e não dormiu. A maior preocupação dele é com o estado de saúde do senhor (Antônio). A família me disse que vai prestar toda assistência a esse senhor - disse o amigo, acrescentando que ontem seria o primeiro dia de Pedro Henrique num novo estágio, num escritório de advocacia.
COLABORARAM: Vitor Costa e Amanda Moura
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