Foto: Gustavo Louzada
O
transporte de pacientes do interior do Estado em busca de consultas e
exames na região metropolitana persiste, como foi comprovado nessa
quinta-feira (16) no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes
(Hucam). O que se via no estacionamento do hospital era uma grande
quantidade de veículos de todas as regiões do Estado e pacientes que
aguardavam no local, seja dentro das vans, ônibus e carros de passeio
das prefeituras, seja no gramado molhado por conta da chuva que caiu
naquela manhã.
As especialidades procuradas pelos pacientes do
interior são as mais diversas. Desde uma simples consulta com pediatra
até quimioterapia, a gama de tratamentos procurados é extensa e os
hospitais e clínicas que absorvem os pacientes estão espalhadas por toda
a Grande Vitória. Nessa quinta estavam estacionados no estacionamento
do Hucam veículos dos municípios de Pinheiros, Rio Bananal e Linhares,
no norte do Estado; Governador Lindenberg e Marilândia, no noroeste;
Itarana e Domingos Martins, na região serrana.
No caso de Pinheiros, no extremo norte capixaba, um
ônibus lotado de pacientes sai do município todos os dias e enfrenta
cinco horas de viagem para distribuir pacientes entre instituições como
Hucam, Hospital São Lucas, Centro Regional de Especialidades (CRE)
Metropolitano, CRE de Vila Velha, Santa Casa de Misericórdia, Clínica
dos Acidentados, Hospital dos Ferroviários e alguns hospitais
particulares.
A partir da distribuição dos pacientes, o que se
sucede são horas de espera, já que os veículos só retornam para as
cidades de origem depois que o último paciente é atendido. O
deslocamento dos pacientes é um risco. Somente nesta semana dois
acidentes envolvendo o transporte de pacientes vitimaram cinco pessoas. O
primeiro deles ocorreu na manhã de segunda-feira (12), em Cachoeiro de
Itapemirim, no sul do Estado quando, um carro do Grupo de Apoio aos
Portadores de Aids Solidário pela Vida (Gaasv) bateu em um caminhão na
BR-101 e quatro pessoas morreram.
Já no norte do Estado, um veículo particular que
transportava quatro pessoas de Pinheiros para tratamento de catarata em
Vitória colidiu com um caminhão que transportava manilhas em São Mateus,
no norte do Estado, e seguia, também pela BR-101, para a Bahia. Neste
acidente uma pessoa morreu e as outras três ficaram feridas.
Espera
No
estacionamento do Hucam, lotado de veículos do interior do Estado, os
pacientes ficam abrigados dentro dos carros ou nos gramados que
circundam o local. Em um destes gramados, junto com o marido e a filha,
que não tem mais de oito meses, estava Adinéia, natural de Rio Bananal,
no norte do Estado.
Ela contou que “graças a Deus é a última consulta
que faz no Hucam”, já que seu tratamento havia acabado e não seria
necessário fazer o deslocamento, com toda a família, para Vitória. Naquele dia, nem ela nem o marido foram trabalhar e a pequena Letícia
teve de acompanhá-los por não ter ninguém que pudesse cuidar dela na
cidade do norte do Estado. Por vota do meio dia de quinta-feira, Adineia
já havia sido consultada, mas teria de esperar a outra paciente que
chegou com ela do interior passar pelos médicos, às 14 horas, para então
retornar a Rio Bananal.
Assim como Adinéia, outros pacientes naturais do
interior precisam recorrer a hospitais da Grande Vitória para
procedimentos considerados simples, como consultas com pediatras e
dermatologistas, mas por mais simples que sejam as especialidades, elas
não são oferecidas nas localidades de origem.
Solução
Para que o deslocamento em massa de pacientes para a
Grande Vitória não seja necessário é preciso descentralizar o
atendimento de especialidades para municípios polo do Estado. A proposta
de descentralização foi defendida pelo secretário de Estado de Saúde,
Tadeu Marino, na prestação de contas realizada no dia 25 de agosto deste
ano, na Assembleia Legislativa.
Ele defendeu com ênfase a modificação do Plano
Diretor de Regionalização (PDR), que vai dividir o Estado em quatro
macrorregiões com o objetivo de descentralizar a saúde, para que os
moradores do interior do Estado não precisem recorrer aos hospitais da
Grande Vitória em busca de atendimento de alta e média complexidades. O
foco do atual secretário na saúde pública contrasta com o do anterior,
Anselmo Tozi, que privilegiava o contato com cooperativas médicas
particulares, e pode significar o avanço na saúde abrangente para a
população do interior do Estado.

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