quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ES: Descuido ou morbidez?

Editorial
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Há algo de mórbido no sistema estadual de internação de menores em conflito com a lei. A cada caso de violência ocorrido, novos elementos surgem para reforçar esta impressão.
 
Desta vez, como da anterior, o interno suicida avisara que poderia atentar contra a própria vida caso não lhe fosse permitida visita de familiares.
 
Mas nada foi feito para impedir o gesto extremo do adolescente. Seu aviso parece ter sido recebido não como advertência, mas como uma espécie de alívio pelos encarregados do setor. Seria esse apenas um caso de descuido?
 
Não cremos. Suspeita-se que o novo modelo de internação propicia o uso da tortura psicológica contra os adolescentes. Uma suspeita que pode ter fundamento.
 
Com ela concorda o presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Criad), André Moreira, que lembrou o fato de o adolescente suicida haver denunciado a privação da sua ida à biblioteca da unidade e da visita de familiares.
 
No mínimo, trata-se de medida antipedagógica, já que a unidade deveria ser ressocializadora e a privação de estar entre livros é uma contradição ao modelo socializador.
 
E mais: o contato com a família, no caso do sistema socioeducativo, é parte integrante do modelo socializador do adolescente e as visitas, exceto em caso de cumprimento de medida disciplinar, não podem ser suspensas.
 
André demonstra preocupação com o modelo de cadeias assépticas. Ele entende que esse modelo acaba por desumanizar ainda mais as relações nas unidades. Suas palavras: “A estrutura física é importante, mas isso não quer dizer que a educação está garantida”.
 
Não quer mesmo. É muito provável que esse modelo sirva mais para deprimir os que nele entram do que para animá-los a repensar comportamentos.
 
O suicídio objeto da análise do conselheiro é o segundo no intervalo de apenas três meses, pois em julho último ocorreu caso idêntico na Unidade de Internação Regional Norte do Iases.
 
O governo do Estado precisa investigar bem esses episódios. Do contrário, vai parar num tribunal da ONU, como aconteceu com seu antecessor.

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