As investigações sobre a caixinha de propinas em delegacias de Niterói e São Gonçalo, que levaram à realização da Operação Alçapão, na quarta-feira, podem chegar a policiais de outras unidades do estado, inclusive da capital. De acordo com o inquérito, o chefe do Setor de Homicídios da 76ª DP (Niterói), Alexandre da Silva Gonçalves, apontado como dono de caça-níqueis na área da 72ª DP (São Gonçalo), comprava as máquinas de outros policiais, que aproveitavam as operações de combate à contravenção para desviar equipamentos apreendidos, antes mesmo de eles serem encaminhados para as delegacias. Durante a Operação Alçapão, foram presos dez suspeitos, sete deles policiais.
Uma testemunha contou que Alexandre comprava por R$ 500 máquinas desviadas de apreensões em favelas. Outra testemunha já ouvida no inquérito apontou o policial Marco Lira, ex-presidente da Viradouro, como dono de vários estabelecimentos onde é explorado o jogo ilegal nos municípios de Niterói e São Gonçalo. A mesma testemunha contou que o policial Jerônimo Pereira Magalhães, único que está foragido, trabalhava para Lira e era responsável por pegar a propina do movimento dos caça-níqueis para distribuí-la entre os agentes envolvidos no esquema nas delegacias de Niterói e de São Gonçalo. Equipes da Corregedoria de Polícia Civil fizeram ontem buscas para tentar localizar Jerônimo, mas não tiveram sucesso.
Na denúncia do Ministério Público, consta que na Rua São João, no Centro de Niterói, onde fica a 76ª DP, funcionavam 33 caça-níqueis, que foram apreendidos numa outra operação, coordenada por promotores. A Corregedoria investiga se os agentes denunciados vazavam, para contraventores, informações sobre operações policiais. Também havia máquinas funcionando na Rua Dezoito do Forte, onde fica a 72ª DP.
O envolvimento dos policiais da 76ª DP com a contravenção era tão próximo que, entre o material apreendido pela Corregedoria durante uma inspeção na delegacia, havia blocos de anotação do jogo do bicho, que eram usados por agentes para escrever recados.
Entre os policiais presos na quarta está ainda o delegado Henrique Faro, que era titular da 76ª DP em março passado, quando foi flagrado saindo de um supermercado com um carrinho de compras. As mercadorias seriam um suborno para que desse tratamento privilegiado ao estabelecimento em inquéritos que envolvessem a empresa. O corregedor da Polícia Civil, Gilson Emiliano, informou que todo o material apreendido durante a operação será analisado. Também disse que poderá haver novas investigações.
Elenilce Bottari - O GLOBO
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