Foto: Arquivo/Fábio Nunes |
Aurich disse que, de início, fora levado a fazer a proposta em função de três fatos ocorridos imediatamente após o crime: o depoimento à polícia da personal trainer do juiz assassinado, Júlia Eugênia – colocando o governador Paulo Hartung sob suspeita –, uma surpreendente revelação, em noticioso da TV local, do então secretário de Segurança, Rodney Miranda, reforçando aquela suspeita, e a prisão do sargento PM Héber Valêncio por suposto envolvimento no crime e que foi muito ligado ao coronel Herman Silveira, primo do governador Paulo Hartung.
Lembrou Aurich que Júlia Eugênia, em seu depoimento, dissera ter o juiz Alexandre lhe confidenciado que possuía fitas gravadas provando o envolvimento do governador em atos de corrupção quando foi prefeito de Vitória. Por isso, segundo ela, Alexandre achava que poderia ser morto a mando do governador.
Quanto ao aparecimento de Rodney na TV, Aurich afirmou ter ele colocado ainda mais suspeitas sobre os ombros do governador, ao afirmar, sem citar nome, que, por trás do crime, havia uma figura muito importante da vida pública capixaba. Esses três fatos, segundo Aurich, deixaram o governador em situação difícil perante a opinião pública, já que o depoimento da personal trainer o incriminava diretamente, enquanto a declaração de Rodney na TV só fazia reforçar essa suspeita e a prisão de Valêncio aproximava o caso da família de Hartung.
Foi então que, num encontro com Hartung, no palácio Anchieta, ainda no calor daqueles três acontecimentos que se sucederam à morte do juiz, o então chefe da Casa Militar do governo estadual sugeriu que o próprio governador tomasse a iniciativa de pedir a federalização do caso, para demonstrar, publicamente, que não tinha qualquer envolvimento nos fatos e que não temia as investigações, mesmo que realizadas em nível federal.
Para Aurich, sua crença de que não houve mando no crime do juiz foi robustecida, depois – já então no início do julgamento dos autores materiais do assassinato –, por um parecer tornado público pelo advogado e ex-juiz Antônio Franklin Moreira da Cunha, indicado pelo coronel Alexandre Martins, pai do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, e contratado pela Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages) como assistente da acusação. Para Franklin, todos os indícios levantados nas investigações apontavam para o crime de latrocínio e que, por isso, ele abdicara de atuar como assistente de acusação no caso. (Veja no link abaixo a íntegra da nossa matéria sobre esse fato, o parecer técnico de Franklin sobre a farsa do crime de mando e a carta que enviou a Rodney Miranda, em que pede ao então secretário de Segurança para refletir sobre a farsa e reconsiderá-la.
Aurich detalhou, ainda, fatos ligados à sua gestão como chefe da Casa Militar do governo estadual, inclusive sobre um episódio que veio à tona na época das investigações, incriminando o então vice-governador, Lelo Coimbra: o assassinato de Wanderley da Silva Ferreira, o Thor do Império. Respondendo a perguntas do advogado de defesa de Lemos, ele falou também sobre um suposto ato de sabotagem que teria ocorrido antes de uma das viagens do governador Paulo Hartung. Tal ato teria o objetivo de provocar um acidente com o avião em que o governador viajaria. Sobre isso, o oficial disse não ter conhecimento e explicou não ser da competência da Casa Militar do governo cuidar do fretamento e da segurança de aeronaves postas a serviço do governador.
Um dos momentos de maior tensão da audiência ocorreu quando o advogado de Lemos perguntou a Aurich se ele participara da organização criminosa Scuderie Le Coq. O juiz do feito observou que o coronel poderia responder ou não à pergunta, já que era apenas testemunha no processo, mas Aurich reagiu: “Excelência, eu vou responder a tudo. A tal Scuderie Le Coq é um estigma.” E foi enfático, chegando a ficar emocionado: “Não, nunca participei. E mais: fui eu quem prendeu os responsáveis por essa organização.”
O juiz Willian Silva lembrou em diversas ocasiões, ao longo da audiência, que ali não estava em julgamento a morte do juiz e sim se houve ou não crime de injúria, calúnia e difamação praticado por Século Diário contra o juiz Carlos Eduardo Lemos, como consta no processo. Mas não houve como evitar que a morte do juiz fosse abordada na audiência, já que as matérias e os editoriais de Século Diário incriminados por Lemos diziam respeito ao caso e a seus desdobramentos.
As matérias e os editoriais que Lemos, no processo, aponta como agressões à sua honra fazem parte do acervo que o jornal disponibiliza, diariamente, para que seus leitores conheçam os fatos levantados pelo jornal sobre o caso Alexandre, bem como a opinião da direção do veículo a respeito. Esse material está reunido no selo “O caso Alexandre”, com chamada na capa do jornal. Acessando esse material, os leitores vão conhecer, em detalhes, todo o trabalho que a nossa reportagem levantou depois de reunir elementos capazes de se contrapor à tese do crime de mando.
Antes disso, Século Diário vinha noticiando o caso com base nas informações oficiais que chegavam à mídia capixaba de fontes ligadas às investigações policiais, comandadas por Rodney Miranda, e ao julgamento dos acusados, a cargo de Lemos e Sérgio Ricardo. Tais informações asseguravam ter o juiz sido morto por encomenda. O título do selo, então, era “A execução do juiz”.
Nesta nova fase, porém, depois de concluirmos que a tese do crime de mando nada mais era do que uma farsa engendrada por Carlos Eduardo Lemos e Rodney Mirada – inclusive com o conhecimento e a participação do governador Paulo Hartung –, substituímos as matérias antigas por novas, estas contendo, além de fatos que desmentem a existência de mando no crime, duras críticas, em textos editoriais, a Rodney Miranda e Carlos Eduardo Lemos.
Outros depoimentos
Na audiência dessa segunda-feira, também falaram do caso do juiz Alexandre outros dois oficiais da PM arrolados como testemunhas, os coronéis reformados Marcos Aurélio Capita, lotado da Divisão de Inteligência (Dint) da corporação à época das investigações, e Carlos Augusto de Oliveira Ribeiro, presidente da Associação dos Policiais Militares da Reserva, Reformados e da Ativa do Estado (Aspomires). Nos depoimentos desses dois oficiais, o que sobressaiu foram críticas duras ao conteúdo do livro “Espírito Santo”, de autoria de Carlos Eduardo Lemos, Rodney Miranda e Luiz Eduardo Martins.
Capita falou sobre a representação que fez contra Lemos e Rodney, por ter sido acusado de estar portando uma terceira arma de fogo – além da sua e da que apreendera com o sargento Heber Valêncio, ao detê-lo e levá-lo a um posto de gasolina para que se comunicasse com sua mulher, antes de ser conduzido à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no dia do crime. A acusação fora feita pelo cabo Adauto Luiz de Souza, um dos PMs integrantes de uma tropa especial formada pelo então secretário de Segurança, Rodney Miranda, com militares da PM afastados das funções policiais por envolvimento em diversos crimes, para auxiliá-lo nas investigações do caso Alexandre.
(Sobre esse grupo de PMS o coronel Aujrich também falara em seu depoimento, relatando ter solicitado ao comando da PM, na condição de chefe da Casa Militar do governo do Estado, parecer sobre a conduta dos militares requisitados por Rodney, tendo recebido do comandante da corporação à época documento, depois repassado ao então secretário de Segurança, desaconselhando a requisição, por se tratar de policiais envolvidos em crimes e afastados do trabalho por suspeita de insanidade mental. Ainda sobre esse grupo de policiais militares que Rodney usou nas investigações, Aurich lembrou que a um deles, Cláudio Hackbart, Rodney confiara a conduta do preso “Lumbrigão”. Ao entregar o preso, Hackbar disse te feito a prisão quando o criminoso se encontrava na companhia de Robson Silveira, parente do coronel Herman Silveira – este primo em primeiro grau do governador Paulo9 Hartung).
Sobre se já respondera a algum processo judicial quando estava na ativa, Capita disse que respondera a um Inquérito Policial Militar (IPM), no âmbito da Corregedoria da PM – procedimento aberto em função da acusação do cabo Adauto e que foi arquivado por falta de provas. Acrescentou que o próprio Adauto não compareceu à Corregedoria da PM para depor no IPM alegando sofrer de insanidade mental.
Sobre o livro “Espírito Santo”, Capita disse ter-se detido na leitura de um capítulo específico do livro – “A epopeia da arma” – no qual, com nome fictício, ele fora apontado como tendo forjado o encontro da arma que os matadores de Alexandre roubaram da vítima depois do assassinato, insinuando, com isso, que o oficial estaria protegendo os criminosos. Em resposta a uma pergunta dos advogados de Lemos, Capita informou que a representação não foi aceita, mas que tal fato em nada alterara sua convicção de que os dois agiram de má fé naquele capítulo do livro, com o único fim de atingi-lo em sua honra. Finalizando, foi perguntado se dera entrevista ao jornal Século Diário e respondeu afirmativamente, acentuando ter sido ele próprio quem procurara o jornal para falar.
O terceiro oficial a depor foi o coronel Carlos Augusto de Oliveira Ribeiro, presidente da Associação dos Oficiais Militares da Reserva, Reformados e da Ativa do Estado (Aspomires). Ele disse que lera o livro de Lemos e Rodney “umas cinqüenta vezes” e que nele não encontrara uma única verdade. “Entrei nesse caso para defender a PM dos ataques que a corporação sofreu nesse livro, que só contém mentiras.”. Ele informou que foi eleito por seus pares da associação que preside para, exclusivamente, defender a PM, como porta-voz dos oficiais reformados, das injustiças cometidas no livro contra a corporação. Nessa condição, pôde acompanhar, como leitor, o noticiário de Século Diário a respeito da celeuma sobre o livro. Confessou ser leitor assíduo do jornal e, a uma pergunta da defesa de Lemos, disse que nunca dera entrevista a Século Diário, apenas trocara e-mails com a Redação do jornal para esclarecer pontos do noticiário que julgava carentes de esclarecimentos.
O último a depor na audiência foi o advogado Leonardo Picoli Gagno, que informou estar defendendo um dos acusados do crime, o ex-policial civil Cláudio Luiz Batista (o Calu), e que, nessa condição, entrou com várias ações na Justiça Federal para reformar decisões proferidas por Lemos e seu sucessor no julgamento do caso em nível estadual, o juiz Sérgio Ricardo. Em resposta a uma pergunta dos advogados de Lemos, disse que algumas de suas ações já tiveram decisões negativas no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas que está recorrendo de todas elas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também foi perguntado pela defesa de Lemos se dera alguma entrevista a Século Diário e sua resposta foi negativa.
Como ainda não depuseram duas testemunhas de acusação – o ex-secretário de Segurança e atual deputado estadual RodneyMira e o juiz Sérgio Ricardo –, Willian Silva marcou uma nova audiência para esta quinta-feira (2), quando os dois prestarão depoimento.
seculodiario.com.br
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