quarta-feira, 18 de maio de 2011

"Espólio de um Déspota": Cúpula da Polícia Civil do Espírito Santo afirma ter provas contra delegados presos: Pesa contra os delegados Luiz Neves e Márcio Braga relatos de extorsão, tortura, denunciação caluniosa e roubo, entre outros crimes.

foto: Eduardo Fachetti
Delegados presos

>TV de LCD e fuzil apreendidos

Os dois delegados, que atuavam na Divisão de Repressão a Crimes contra o Patrimônio (foto), foram levados para a Delegacia de Vila Velha, após passarem maior parte desta sexta na Corregedoria da Polícia Civil. Durante a tarde, investigadores estiveram, à procura de provas, no local em que eles trabalhavam. O corregedor-geral da Polícia Civil, Emerson Gonçalves da Rocha, citou o que foi encontrado.

"As informações que chegam é de que foi apreendido um fuzil e uma televisão LCD de 42 polegadas. Esse material será encaminhado para apreciação, para que se verifique a que auto de infração está vinculado", explicou o delegado, que ressaltou que a arma não era de uso funcional.

O delegado-chefe da Polícia Civil no Espírito Santo, Joel Lyrio, disse ter provas - testemunhais e físicas - da veracidade das denúncias contra os delegados Márcio Braga e Luiz Neves, presos na manhã desta sexta-feira (13). Pesa contra eles relatos de extorsão, tortura, denunciação caluniosa e roubo, entre outros crimes.

"No inquérito policial estão todas as provas existentes. Há provas testemunhais. E a busca e apreensão estão sendo feitas para termos certeza absoluta dos fatos. Qualquer objeto que for apreendido, ligado à questão criminosa, será submetido à observação pericial", afirmou Lyrio.

A denúncia que culminou na prisão foi feita por Jonilson Ferreira Rodrigues, que já foi preso ao menos três vezes, por crimes de estelionato e extorsão. Os delegados que agora estão atrás das grades foram os que comandaram as prisões do denunciante. Embora a defesa de Márcio Braga e Luiz Neves afirme que a denúncia foi uma forma de retaliação, o delegado-chefe da Polícia Civil disse que o foco é outro.

"Se a gente partir deste princípio, vamos dizer que todas as pessoas que cometem crimes deverão ser mortas. Não é esse o sentido. Independente da pessoa ter cometido qualquer tipo de delito não pode a polícia corroborar com qualquer atitude ilícita. Isso independe do cidadão", destacou Lyrio.

As investigações sobre o caso começaram em fevereiro desta ano. O corregedor disse, também, que novas denúncias poderão ser apuradas, e que não está descartada a hipótese de se averiguar se a última prisão de Jonilson Rodrigues foi "plantada" pelos envolvidos.
foto: Eduardo Fachetti
Delegados presos
Joel Lyrio: "sendo necessário, cortaremos na própria carne"

Segundo a denúncia, a vítima era coagida a pagar propina aos delegados e a policiais para ter os delitos diminuídos nos autos de infração. Segundo Joel Lyrio, essa conduta não será aceita e a ordem do governo é de "tolerância zero" com os desvios na corporação.

"A recomendação do governo é de que nós, sendo necessário, cortaremos da própria carne. É isso que estamos fazendo e vamos continuar a fazer. Evidentemente não gostaríamos que a Polícia Civil tivesse em seus quadros pessoas com conduta desviante", disse.

A Corregedoria tem 10 dias para concluir o inquérito. O sigilo telefônico dos investigados já foi quebrado, e não está descartada a hipótese de, já nos próximos dias, também ser feita a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos delegados detidos.

Delegados negam acusações
Enquanto aguardavam na Corregedoria da Polícia Civil a transferência para a Delegacia de Vila Velha, onde policiais ficam detidos, os delegados Márcio Braga e Luiz Neves, presos nesta sexta-feira (13), disseram achar estranho a própria polícia e a Justiça acreditarem em acusações feitas contra eles por uma pessoa presa ao menos três vezes por crime de estelionato. As prisões foram feitas pela Delegacia Patrimonial onde os dois delegados trabalham.

Braga e Neves também questionaram o fato de não terem sido convocados pela Corregedoria para explicar as acusações feitas pelo denunciante que alegou estar sofrendo ameaças e extorsão dos delegados e investigadores da Patrimonial desde agosto do ano passado. Braga destacou que todas acusações foram inventadas pelo denunciante, já que ele vinha sendo investigado desde o ano passado, após uma cunhada dele ter sido presa por extorsão seguida de roubo.

"Em momento algum fui ouvido pela Corregedoria. Como pode uma pessoa criminosa como essa falar essas coisas absurdas e a polícia acreditar sem ao menos me ouvir. Foram 24 anos de polícia destruídos com esse episódio", disse.

O delegado Luiz Neves, que segundo o denunciante teria ordenado à policiais da Patrimonial que atirassem em policias do Núcleo de Repreensão as Organizações Criminosas (Nuroc), disse que ele está fazendo essas acusações, pelo fato de ter sido preso no início de abril, após tentar entregar propina a dois policias, dentro da delegacia, na tentativa de amenizar os inquéritos que responde na Patrimonial.

"Ele já é um velho conhecido da Polícia Civil. É só puxar a ficha dele que vai observar o nível dessa pessoa. Uma inverdade dele não pode ser dita como uma verdade. No momento em que a Justiça e a Polícia dão credibilidade para um marginal como esse pode-se prender qualquer um. No dia em que o prendi por extorsão, eu comuniquei o fato à Corregedoria", disse.

Os advogado dos dois delegados e dos cinco policiais civis também presos sob a mesma acusação, vão ingressar na próxima segunda-feira (05) com um pedido de revogação de prisão preventiva. Enquanto isso, os sete ficarão detidos na Delegacia do Centro de Vila Velha.

POR EDUARDO FACHETTI E LETÍCIA CARDOSO - GAZETA ONLINE

Nenhum comentário:

Postar um comentário