Maurílio Mendonça
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Aos 21 anos de idade, Francis Vacileski, microempresário, ajuda a aumentar o número de motos nas ruas do Estado. Assim como ele, a cada ano que passa mais pessoas trocam o transporte público pela motocicleta. E a promessa é que, em dez anos, haja mais motos do que carros nas ruas brasileiras. Por aqui, a expectativa é que a mudança aconteça ainda antes, em nove anos.
Entre 2008 e 2011, aumentou em 46% o número de motocicletas na frota veicular do Espírito Santo. O número de carros subiu 19%, no mesmo período. Respeitando as proporções, em 2020 o Estado teria uma frota maior de motos, superando a de carros pela primeira vez.
A perspectiva é a mesma, nacionalmente, segundo estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em dez anos ocorrerá a inversão, considerando o crescimento de 19%, ao ano, em motos, contra os 9%, em automóveis.
"Vendem-se mais motos, porque elas são mais ágeis, não ficam presas nos congestionamentos, são veículos mais baratos (uma popular sai por cerca de R$ 5 mil) e têm um fácil plano de financiamento", frisa José Francisco Costa, diretor-executivo do Sincodives (Sindicato das Concessionárias e Revendedoras do Estado).
Essas possibilidades convenceram Francis, há dois anos, a assumir a moto do irmão. "Ele comprou, mas não conseguia pagar", explica. A decisão veio na hora certa. "Eu estudava e trabalhava. Ganhei tempo no deslocamento e pontualidade. Não preciso mais ficar esperando um ônibus", diz Vacileski.
Insegurança
Nos primeiros quatro meses deste ano, o percentual de vendas no número de motos foi cinco vezes maior do que de carros. "Acredito que o número de motos só não é ainda maior por causa do excesso de acidentes e do risco maior em mortes. Hoje, é o ponto negativo desse tipo de veículo", avalia Costa.
Entre 2008 e 2010, o aumento no número de mortes em acidentes envolvendo motos foi de 25%, segundo dados do Batalhão de Trânsito. Além disso, o Samu atendeu a 1.560 vítimas de colisões com motos nos três primeiros meses de 2011, número já superior ao total de vitimados, em 2008, que teve 1.506 casos registrados.
Mais vítimas, mais gastos
A cada ano que passa aumentam em R$ 8 milhões os gastos públicos da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) com os serviços prestados no Hospital São Lucas. E 70% do investimento são destinados a atender às vítimas de acidentes de trânsito, responsáveis em ocupar seis de cada dez leitos da unidade hospitalar.
O atendimento fica cada ano mais caro devido às complicações dos acidentes, ao valor das medicações e à grande quantidade de motociclistas feridos. Hoje, 65% das vítimas de trânsito encaminhadas ao Hospital São Lucas estavam em motocicletas.
"E eles costumam ficar internados entre 30 a 45 dias, o que encarece o serviço", frisa o subsecretário estadual de Saúde, Geraldo Corrêa. Hoje, cada paciente vitimado no trânsito custa cerca de R$ 11 mil, enquanto outros acidentados saem por R$ 4 mil. Em 2010, foram investidos R$ 50 milhões contra R$ 42 milhões em 2009 e R$ 34 milhões em 2008.
Outro dado alarmante está no número de acidentes registrados pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Nos três primeiros meses deste ano, em 57,6% dos acidentes de trânsito havia um motociclista ferido.
"No ano passado, a média foi de 52,6%. Em 2006, não passava de 13%. Temos que mudar essa realidade", frisa Corrêa.
Melhor formação e ônibus com qualidade
Presidente de instituto de educação no trânsito diz: é possível conter avanço das motos e das mortes
"A moto pode ser mais ágil, eficiente e barata, mas também é mais violenta (em número de mortes e acidentes), além de ser a mais poluidora", analisa o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Educação no Trânsito (Ibetran), Paulo Lindoso. Para que a motocicleta não domine as ruas, ele defende melhor formação dos pilotos e um grande investimento no transporte público coletivo.
Melhorar o serviço prestado pelos ônibus metropolitanos e municipais já ajudaria a evitar que aumente o número de pessoas que estão trocando o coletivo pela moto para chegar mais rapidamente ao trabalho.
"Será difícil controlar as motos vendidas para serem usadas como trabalho (como os motoboys). Mas dá para evitar a venda para os que optam pelo veículo para ir trabalhar. Só que o transporte público tem que ser mais atraente", frisa Lindoso, que defende a criação dos corredores exclusivos para a melhoria do serviço.
Ele destaca a questão da educação. "Deve haver mais aulas de consciência ética e de respeito às leis de trânsito", frisa. A forma de evitar que mais pessoas andem de moto até o trabalho é seguir o caminho do investimento no transporte público", completa.
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