quarta-feira, 25 de maio de 2011

Coincidências e lições que o caso Palocci deixa para o mais novo consultor do ES

Por José Rabelo - www.seculodiario.com.br

Mesmo com a espessa blindagem preparada pelo palácio do Planalto para proteger o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci não deve escapar da “blitz” articulada pela oposição, que exige explicações sobre o enriquecimento “relâmpago” do ministro. Palocci, de acordo com série de reportagens do jornal Folha de S. Paulo, teria aumentado seu patrimônio em 20 vezes em quatro anos. A pequena fortuna acumulada teria sido conquistada por serviços prestados pela consultoria Projeto, de sua propriedade, no período em que esteve deputado federal.

Sob o fogo cruzado da oposição, é quase certo que Palocci, para salvar sua pele, tenha que fazer uma prestação de contas de sua “pequena fortuna” à sociedade. No Espírito Santo, longe da pressão que sofre o ministro em Brasília, o ex-governador Paulo Hartung toca sossegado a sua nova carreira de consultor empresarial. Ao contrário de Palocci, porém, Hartung está longe de ser questionado sobre a sua nova atividade. Comparado às Ilhas Cayman, consideradas um paraíso fiscal, o Espírito Santo, podemos dizer, é o verdadeiro “paraíso das consultorias”, principalmente as bem ajambradas, como é o caso da de Hartung.

Após passar a faixa de governador para Renato Casagrande, Hartung partiu para um giro de três meses pelos Estados Unidos com o objetivo de se preparar para o seu novo desafio profissional. Retornou ao Espírito Santo no início de abril, pronto para botar as mãos na massa. Para compor a sociedade, Hartung chamou o seu ex-secretário da Fazenda José Teófilo.

O anúncio da nova consultoria foi aceito com muita naturalidade pela classe política, que não viu problema algum na nova atividade profissional escolhida por Hartung. Já a classe empresarial festejou a boa notícia de ter um inside information da estatura do ex-governador ao alcance de uma tabela que vende serviços de consultoria.

O termo em inglês (inside information) usado nos últimos dias pela imprensa para classificar a atividade sob suspeição exercida por Palocci, traduzido para o bom português, significa nada mais nada menos do que repassar informações privilegiadas do governo com o intuito de favorecer bons negócios para empresas, que contratam os “conselhos” a peso de ouro. É exatamente isso que pesa contra Palocci.

Após ficar oito anos à frente de uma gestão que privilegiou flagrantemente os grandes grupos econômicos no Estado, Hartung talvez seja hoje no Espírito Santo o maior detentor de informações privilegiadas do governo. Mesmo teoricamente fora do governo, Hartung mantém diversos homens de sua confiança em setores estratégicos da administração pública, do primeiro e do segundo escalões. Além disso, o ex-governador também continua gozando de forte influencia em instituições estratégicas do Estado, como o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Assembleia Legislativa, só para citar três exemplos.

Até agora se sabe muito pouco ou quase nada sobre a nova consultoria de Hartung. Uma busca no Google não revela nenhuma pista da empresa do mais novo e cobiçado consultor capixaba, o que dá a entender que o serviço é restrito a quem de fato já sabe como acessá-lo.

No embalo da devassa imposta a Palocci, que exige transparência ampla e irrestrita para esclarecer o seu enriquecimento instantâneo, seria de bom tom que o ex-governador se antecipasse às especulações e fizesse uma prestação de contas da sua nova atividade à sociedade. Afinal, a população que o elegeu por duas vezes governador tem o direito de saber se os novos clientes da consultoria são velhos conhecidos do seu governo.

Enquanto os esclarecimentos não chegam, a sociedade prefere acreditar que o consultor Hartung não esteja repassando informações privilegiadas a empresas que contrataram com o seu governo nos últimos anos. Espera-se também que o ex-governador não fique rico da noite para o dia.

Dias atrás, Mariazinha Vellozo Lucas, ao abordar as “coincidências” entre o caso Palocci e a nova carreira de Hartung, foi muito precisa ao postar no seu blog a seguinte observação: “(...) O senhor Hartung Gomes poderia aproveitar a deixa de Palocci e divulgar a sua declaração de bens de 2002 (último ano antes de entrar no governo do Estado), de 2006 (último ano do seu primeiro mandato de governador) e de 2010 (último ano do seu segundo – e espero último – mandato de governador). Assim não pairariam dúvidas também sobre a evolução de seu patrimônio e de como ele pretende custear sua manutenção ao longo dos próximos anos caso o negócio das consultorias não prospere (...)”.

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