terça-feira, 21 de junho de 2011

LITORAL SUL CAPIXABA: Mais de 40 traficantes detidos em Piúma

A equipe da Polícia Civil (PC) de Piúma, sob comando do delegado Milton Sabino, colocou na cadeia - desde setembro de 2010 - 34 traficantes (veja lista no quadro). Além deles, 8 menores de idade acusados de comercializar entorpecentes foram encaminhados a unidades de internação.

A última operação aconteceu quinta-feira, quando 7 pessoas foram detidas. Entre elas, um adolescente. De acordo com Sabino, "um exaustivo trabalho vem sendo realizado no balneário para tirar das ruas os traficantes e livrar a sociedade desses criminosos”.

As prisões ocorreram após o assassinato do policial Moacyr Camargo, morto em setembro do ano passado por marginais quando abordava um veículo suspeito em um posto de gasolina do balneário.

Ele atuava juntamente com outros parceiros diretamente no combate ao tráfico de drogas.

O chefe do DPJ de Piúma concedeu uma entrevista exclusiva, divulgada em primeira mão pelo jornal Estado Notícias.

O delegado Sabino assegurou que o trabalho da polícia vem sendo feito. “Mas é preciso que a família salve os seus filhos das mãos da criminalidade e os oriente que a vida no crime, além de não compensar, tende a ser muito curta, como se vê nos assassinatos frequentes que ocorrem em todo país”, reitera.

“O tráfico sempre foi o carro chefe de combate. Dissemos isso a partir da morte do Camargo, mas não deixamos de ir atrás dos assassinos dele, pegamos e os entregamos à Justiça para serem julgados são e salvos. Quando disse a partir da morte é porque os policiais e ele eram os combatentes de crimes dessa espécie”, explicou o delegado.

Entretanto, mesmo com esse número elevado de prisões, o delegado afirma que a retirada de um da rua não significa menos um no ofício criminoso. “Existe uma hierarquia neste crime. Prende-se um, mas vem outro e ocupa o lugar, são os gerentes. A demanda é muito grande. Se pudéssemos tratar os nossos jovens para eles não entrarem no tráfico, no uso, não teria traficante. Não teria quem comprasse a droga. Mas, o que se vê cada vez mais é o crescente índice de usuários”, avalia Sabino.

Para o agente Paulo Lascosk, que era parceiro de Camargo, “traficante é como rato, quando morre um surgem vários e enquanto prendemos 10, 20 já estão ocupando a vaga deixada.

“Quando tira da rua um, sempre aparecem outros. Tem casos aqui em Piúma que quando a gente prende o marido, a mulher fica traficando. A gente prende a mãe, os filhos continuam e o crime não para”, conta o agente.

Epidemia
“O tráfico é um ciclo vicioso e isso não se contesta”, enfatiza o delegado Sabino. O bandido é preso e condenado, mas acaba sendo agraciado com brechas na Lei, deixa a prisão com parte da pena cumprida e volta novamente.

“Na maioria das vezes ele volta para o tráfico para pagar as dívidas que acumulou ao longo da prisão, com advogados, com as outras pessoas do tráfico que o ajudaram. Como há mais facilidade dele ganhar dinheiro em menos tempo, acaba retornando a prática”, analisa.

Na visão do delegado, o único meio de vencer a guerra é a sociedade se unir ao Estado. “A guerra está muito longe de acabar. Ela é desleal. O marginal não tem fronteira, não tem lei que o regule, ele pode fazer tudo. Mas a sociedade é limitada pela lei. Se a sociedade e o Estado não se unirem, vai virar uma epidemia. A cada dia mais as pessoas estão entrando no vício das drogas”.

A família pode salvar
Para Sabino, a família pode contribuir muito para resgatar os seus filhos das mãos dos traficantes e afastá-los do uso, caso contrário, não basta apenas prender. “Deve ser aliada das autoridades para verificar seus filhos, acompanhar, ver quem são os amigos, dar conselhos para que não caiam na armadilha do uso. Só quem sustenta os traficantes são os usuários, não tendo usuários, não têm traficantes”.

A colaboração da sociedade, enfatiza o delegado, é fundamental para o trabalho da polícia. “É preciso denunciar. Basta ligar para o 181 para que possamos localizar tanto os traficantes quanto as drogas que eles escondem em casas de amigos, ou enterrada em algum terreno. Contamos com a ajuda da população. Não precisa ter medo, a denúncia será mantida em sigilo, pode fazer a denúncia de outro lugar, qualquer parte”, solicita.

Vale ressaltar que não só os homens optam pelo ofício. Mulheres também vêm assumindo movimentadas bocas de fumo em Piúma. Mãe e filhas, cunhados, marido e mulher e adolescentes se enveredam no perigoso universo das drogas. Atrelado ao tráfico, outros crimes fazem dos Boletins de Ocorrência das policias Militar e Civil uma extensa lista.

Piúma no centro do tráfico
A “Cidade das Conchas” acaba sendo um município de fácil acesso para os traficantes e a entrada de drogas pela fama que possui de ser point no verão. Lugar dos trios e da animação.

“É como Guarapari é para os mineiros, Piúma e determinadas cidades da Bahia tem uma aceitação grande por parte de visitantes. Na Grande Vitória e no Norte do Estado as pessoas conhecem Piúma por conta do carnaval. A ideia de alguns marginais é que, ao se instalarem aqui, conseguem um volume de consumidores na população flutuante bem maior. Na cidade, com 18 mil habitantes, chega circular 150 mil pessoas na alta temporada”, diz o delegado.

Entre os bairros mais problemático destacam-se: Lago Azul, Céu Azul, Niterói, Areias e também o Centro.

Posto de saúde vira cracolândia
Eles quebram as lâmpadas dos postes para perambularem mais tranquilamente pelas ruas do bairro Niterói à noite, considerado pela Polícia infestado de usuários de crack. Os moradores, pelas janelas, nada podem fazer para mudar a realidade, além de ver entre as cortinas. Temem morrer se chamarem a polícia.

“Um posto de saúde da Prefeitura abandonado há cerca de dois anos virou uma mini ‘cracolândia’”, denuncia uma balconista que prefere não ser identificada.

Nas imediações do posto, outra dona de casa, pelas grades da janela de sua residência, falou com a reportagem, mas não quis se expor, por medo. “Isso aqui à noite é horrível. Eles abrem a janela, pulam e lá dentro fumam e fazem sexo. É nojento demais! A gente vê, a Polícia dá batida, mas eles voltam”.

Um senhor aposentado também informou que o matagal em volta das ruas faz do bairro um lugar perfeito para os moribundos do crack. “Olha isso ali (apontou para um poste com a lâmpada quebrada e um quintal abandonado cercado de mato). Vamos recorrer a quem?”, questiona.  

De dia e de noite, o cachimbo é aspirado em Niterói e em vários lugares, não somente em Piúma. Enquanto a reportagem conversava com os moradores, à porta de um bar, três homens trocavam dinheiro por pedra de crack, em plena luz do dia.

Como mudar esse quadro em Niterói? A reportagem questionou o delegado. Cabe somente à polícia e à família a responsabilidade por esta batalha?

“A responsabilidade é de todos! Passa pela educação, infra-estrutura, investimento no social, no lazer, no emprego e no investimento na família”, frisa.


“Quando ela entregou o violão, eu chorei”
A reportagem conversou também com a faxineira Maria das Graças Pinheiro da Silva, residente no bairro Independência, em Cachoeiro de Itapemirim. Ela falou abertamente da luta que travou contra o crack.
A filha dela caiu na armadilha ainda na adolescência e por muito pouco a faxineira não desistiu de ajudar a resgatar a menina. Hoje, fora do vício depois de sete anos, Graça diz que venceu uma etapa da guerra.
Madrugadas acordada, indo de boca em boca de fumo, andando perdida pelas vielas da cidade, ela foi buscar a filha muitas vezes e a encontrou bêbada, suja, igual a um mendigo.

Desta corrida para salvar a menina, relembra de um dos fatos que mais lhe marcou. Foi quando a filha entregou a um traficante o objeto que mais amava, um violão. “Eu chorei demais a vendo chorar no quarto, arrependida de ter entregado o violão na boca de fumo”.

Conta Graça que sua filha chegou a participar com cantores na cidade de alguns shows, tocando violão e cantando. Era o orgulho dos pais que só têm mais um filho. “Eu fui à boca buscar o violão, escondi e depois de um ano devolvi, ela já o tinha como perdido, choramos juntas”.

Ela só conseguiu livrar a filha do vício após ter buscado ajuda, em várias clinicas - de São Paulo, Minas Gerais e Vitória.

“Tem de dar carinho, abraçar, dizer que ama”, frisa.

Alguns dos Traficantes presos:

Homens
Josenildo Dias da Silva – vulgo Negão
Josemar Dias da Silva – vulgo Escobar
João Carlos Marinho – vulgo Gordo
Radan Almeida Coutinho – vulgo Rada, ou Rato
José Augusto de Almeida Correia – vulgo Gugu
André Luis Gomes – vulgo Andrezão
Dino Sebastião de Lana, vulgo Dino
Júlio Correa de Lana, vulgo Mineirinho
Renan Benevides Rodrigues
Elcio Alves de Jesus
Cristiano Pedroza Novo, vulgo Bira
Rafael Marques da Silva
Max Mauro Biss Ferreira, vulgo Marquinho Beni
Diego Simão Luquetti, vulgo Brucutu
Lucyan Martins Teixeira, vulgo Negrete
Flanster Miranda da Silva, vulgo Flanster
Marcos Bernardo da Silva, vulgo Carioca
Clismárcio Barboza da Silva
Júlio Cesar Borgnon Justino, vulgo Passarinho
Robson Lilio Gobete
Jairo Moreira Marinho, vulgo Guaiamum
Laion Rodrigues Viana
Rodrigo Lucas Benevides
Vagner Vasconcelos
Douglas Augusto de Carvalho Souza

Mais oito menores encaminhados a unidades de internação

Mulheres
Simone Amorim
Flávia Miranda Pereira
Rosa Helena de Carvalho
Maria da Conceição Teixeira, vulgo Conceição
Caroline Estrela Pereira Lima, vulgo Carol Estrela Joelma Gomes Xavier
Rosana Estela Scherrer Lima, vulgo Rosa Scherrer
Jordana Scherrer
Lorena Miranda dos Santos

Por Luciana Maximo. jornal o Espírito Santo de Fato.

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