quarta-feira, 15 de junho de 2011

ES: Tragicomédia do crime organizado

Editorial - www.seculodiario.com.br

Guardadas as devidas proporções de contexto e circunstâncias, esse festival de oba-oba promovido pelo deputado Rodney Mirada em torno do que ele chama de ‘combate ao crime organizado’ lembra muito o Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País), imortalizado na crônica política brasileira pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta, na velha Última Hora de Samuel Wayner.

Stanislaw (pseudônimo do jornalista carioca Sérgio Porto) se referia ao Febeapá todas as vezes em que abordava, em suas crônicas, eventos comemorativos do golpe militar de abril de 1964.

O festival criado por Rodney Miranda – por meio da convocação de uma sessão solene da Assembleia para se auto-homenagear e, de quebra, bajular o ex-governador Paulo Hartung, como publicou a coluna “Socioeconômicas” em nossa edição dessa terça-feira (14) – não tem como ser levado a sério, pois possui ingredientes de um fato cômico e não trágico, a exemplo dos eventos que Stanislaw comentava em suas crônicas.

Realmente, não deixa de ser engraçado que ele use o mandato para enaltecer algo que em verdade nunca existiu. Ou melhor, que nada teve de sério, pois foi um crime organizado sem rosto e sem endereço, ao qual jamais alguém foi vinculado pelo nome, sobrenome ou local de moradia.

Era um crime organizado sem rosto e sem localização geográfica, de pura conveniência política para seus criadores, à frente o próprio governador Paulo Hartung.

Atacar adversários do governo, colando neles a pecha de membros do crime organizado, foi, portanto, apenas uma das estratégias de Hartung para dominar a classe política capixaba ao longo dos oito anos de suas duas administrações.

E todos sabem que, nesse esquema de destruição e demonização de adversários políticos, atuavam com destaque Rodney Miranda e seus homens de confiança na segurança pública estadual, aliados a figuras do Judiciário e do Ministério Público Estadual.

E não por acaso foi justamente Rodney quem desmoralizou toda a encenação, como denunciou à Justiça, recentemente, o chefe da Casa Militar nos meses iniciais do primeiro governo Hartung, coronel Luiz Sérgio Aurich.

Século Diário noticiou esse fato, em detalhes, numa das matérias publicadas recentemente sob a rubrica do selo “Resistindo à mordaça”, criado para abrigar textos em resposta a tentativas de nos silenciar por meio de ações judiciais encabeçadas pelos inimigos da liberdade em nosso Estado.

Pela importância que esse fato ganhou no contexto da nossa luta pela liberdade de informação e crítica, é de todo conveniente que façamos, aqui, neste espaço, um breve resumo de como ele se deu.

Em rápidas pinceladas, foi assim.

Na noite do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, Rodney foi a um programa noticioso da Rede Gazeta e disse, para espanto geral, que quem estava por trás do crime era uma conhecida figura do poder público local. Com isso, ele deixou no ar a suspeita de que esta pessoa seria Paulo Hartung.

A declaração de Rodney – naquele momento em choque com o governador, que pretendia demiti-lo – robustecia o depoimento da personal treiner do juiz, Júlia Eugênia, que em depoimento à polícia, também no dia do crime, revelara ter a vítima lhe confidenciado que, se algo de ruim lhe acontecesse, o responsável seria Hartung.

A revelação de Rodney na TV fez com que suas relações com Hartung, por assim dizer, se normalizassem. Foi aí, então, que a dupla, com apoio do juiz Carlos Eduardo Lemos, montou a farsa do crime do mando. O que livrou Hartung de envolvimento no crime, impedindo a federalização das investigações.

Diante disso, como se pode levar a sério o que Rodney diz sobre o crime organizado no Estado? Não dá, não é mesmo?

É piada digna do Febeapá de Stanislaw Ponte Preta.

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