sexta-feira, 16 de setembro de 2011

RIO: GOVERNO CABRAL - Milícias já chegaram ao centro do Rio. Camelô com sotaque e proteção. Seop investiga milícia que dá cobertura a ambulantes estrangeiros na Rua Uruguaiana

Camelôs estrangeiros ajeitam seus produtos na Rua Uruguaiana (Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo)
Isabela Bastos (isabelab@oglobo.com.br)
Agentes do setor de inteligência da Guarda Municipal investigam a atuação de milicianos na proteção de camelôs estrangeiros na Rua Uruguaiana, no Centro. O grupo, de origem ainda desconhecida, daria apoio ao comércio ilegal evitando apreensões, garantindo espaço para o trabalho dos imigrantes e fornecendo mercadorias. O secretário da Ordem Pública (Seop), Alex Costa, quer propor uma ação conjunta de fiscalização às polícias Civil e Federal, para que sejam combatidos os crimes de pirataria, contrabando e imigração ilegal. Os resultados da investigação, porém, só serão formalmente enviados às forças policiais em 30 dias, segundo o próprio secretário:

- A Guarda Municipal não fará o embate sozinha. Estamos nos municiando para atuar cirurgicamente. Há crimes como contrabando e pirataria, além de possível imigração ilegal. Pode haver um esquema maior. São estrangeiros. Como chegaram ao Rio?

Segundo o secretário, a presença maciça de estrangeiros foi notada quando a Seop começou a preparar a mancha da desordem urbana - levantamento feito para delimitar a área de atuação da Unidade de Ordem Pública (UOP) do Centro, há dois meses. Mas a corporação decidiu aprofundar as investigações após um conflito entre ambulantes e guardas, há duas semanas, na Uruguaiana. No episódio, os agentes foram acusados de agir com truculência. O incidente ocorreu três dias antes da instalação da UOP, que não incluiu a Uruguaiana no perímetro de tolerância zero. Na ocasião, Alex Costa disse que a repressão ao comércio informal naquela rua era complexa, e por isso ficara de fora.

Área tem camelôs de países vizinhos
Segundo a Seop, peruanos e equatorianos são maioria entre os ambulantes de outros países que atuam no Centro. A investigação pretende mapear quantos e quem são os imigrantes, onde dormem e como obtêm as mercadorias. Outro objetivo é localizar os depósitos dos produtos.

- Sabemos que há um grupo, do tipo milícia, que dá proteção (aos camelôs). Mas ainda não se sabe quem são essas pessoas e se há a participação de policiais. A lógica dos estrangeiros é a mesma do ambulante oportunista, que põe as mercadorias sobre uma lona no chão. Mas há desdobramentos disso. O que chama a atenção é a quantidade de estrangeiros com o mesmo perfil e o mesmo tipo de mercadoria - diz o secretário. Já vimos situação semelhante em Copacabana e no Largo do Machado.

O GLOBO percorreu a Rua Uruguaiana por dois dias. Com o trecho da via entre a Rua do Ouvidor e o Largo da Carioca ocupado por uma feira de livros, os camelôs se concentravam na quadra entre as ruas do Ouvidor e do Rosário. Anteontem, apesar do mau tempo, havia 20 estrangeiros entre as dezenas de camelôs que agiam na área. Ontem, até mesmo um bebê foi visto junto com o grupo.

Arredios e sempre com mochilas nas costas, os estrangeiros ficam perto uns dos outros enquanto trabalham. Quando precisam circular na região, andam em grupos. A predominância é de jovens. As mercadorias vendidas são sempre as mesmas: chapéus, echarpes, camisas e bolsas, algumas de marcas famosas.

O titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Propriedade Imaterial, delegado Alessandro Thiers, disse desconhecer a informação de que uma milícia daria proteção a estrangeiros no Centro. Ele vai requisitar um relatório da guarda. Thiers ressaltou, contudo, que estrangeiros têm sido presos vendendo mercadorias pirateadas em diversos bairros do Rio. Em julho, quatro chineses foram detidos com medicamentos, perfumes e eletrônicos em Vila Isabel. Na semana passada, a delegacia prendeu 14 equatorianos que vendiam camisas falsificadas em Jacarepaguá. Segundo o delegado, quando as ações da delegacia envolvem camelôs estrangeiros, o caso é comunicado à PF. O GLOBO tentou na quinta-feira, sem sucesso, contato com a Superintendência da Polícia Federal no Rio para falar sobre o caso.

- Independentemente da nacionalidade dos ambulantes, estamos combatendo a pirataria e efetuando prisões e apreensões. Mas, se os estrangeiros estão vendendo produtos sem marcas, a atribuição é da prefeitura, que tem o dever de cuidar do espaço público, e da Polícia Federal, para checar se há contrabando e imigração ilegal. É preciso um trabalho conjunto. A maioria desses produtos não é fabricada no Brasil - disse Thiers.

Na UOP do Centro, mais ambulantes
O desafio imposto pela desordem no Centro não se limita à Rua Uruguaiana. Onze dias após a implantação da UOP do Centro, camelôs continuavam na quinta-feira a desafiar a política de tolerância zero da prefeitura, agindo dentro do perímetro de vigilância especial. Na quinta-feira, O GLOBO contou 17 ambulantes irregulares vendendo bebidas, biscoitos e relógios dentro da área da UOP. No trajeto feito pelos repórteres, 44 guardas municipais atuavam em grupos de dois a cinco agentes.

Na Rua México, além de um camelô que vendia biscoitos e relógios, uma fila dupla de automóveis tomava quase toda a via, a despeito da presença de guardas nas esquinas com as avenidas Almirante Barroso e Nilo Peçanha. Na Praça Mário Lago, cinco camelôs irregulares se misturavam aos vendedores legalizados do lugar, onde sete guardas faziam plantão. Perto dali, na Rua Rodrigo Silva, nove motos estavam estacionadas sobre as calçadas.

Na Avenida Rio Branco, 28 guardas faziam vigilância. Isso não impediu, porém, que três camelôs agissem na entrada da Estação Carioca do metrô e outro na esquina com a Avenida Almirante Barroso.

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