terça-feira, 26 de julho de 2011

ES: Máfia do Carvão: Delegado diz que exploradores de trabalho infantil podem parar na cadeia

TV Vitória

Foto: Reprodução TV Vitória

A reportagem exclusiva da Rede Vitória que desvendou os bastidores da Máfia do Carvão em Conceição da Barra e São Mateus causou grande repercussão no Estado nesta terça-feira (26). A verdadeira teia criminosa se espalha pelo Norte do Espírito Santo, Sul da Bahia e leste de Minas Gerais. O esquema começa com o roubo de madeira, que é processada em carvoarias clandestinas. Nesses locais, crianças são exploradas e trabalham em um ambiente insalubre e com riscos à saúde.

O titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), delegado Marcelo Nolasco, explicou que manter crianças nessas condições é crime e pode levar os responsáveis para a cadeia. "Aquelas crianças estão submetidas a um crime chamado maus tratos, sendo que, dependendo das condições da carvoaria, pode configurar até mesmo um crime de submissão a condição análoga à de escravo, que é um crime federal e muito mais grave", esclareceu.    

Adultos também trabalham nessas carvoarias em um regime próximo à escravidão. Apesar de lucrarem muito com a venda do carvão, os líderes da máfia pagam pouco pelo trabalho. Alguns trabalhadores recebem apenas R$ 2 pelo metro cúbico do produto, que chega a ser vendido por R$ 120 para as siderúrgicas.

O esquema também conta com empresas de fachada e laranjas, que forjam notas fiscais para sonegar impostos. O prejuízo aos cofres do Espírito Santo já chega a R$ 1 bilhão.
 
O caso

Foto: Reprodução TV Vitória

A reportagem do jornalista Alex Cavalcanti revelou um verdadeiro submundo do crime organizado. Ele percorreu os caminhos de uma das maiores organizações criminosas do Estado. Exploração infantil, trabalho escravo, tráfico de drogas, crimes ambientais e sonegação fiscal foram revelados nos bastidores de um universo quase infinito de crimes.

Durante vários meses, a equipe da TV Vitória registrou a indústria do crime. Por trás de um esquema bilionário, que enriquece poucos, existe uma teia criminosa, que vai da exploração infantil ao tráfico de drogas, do trabalho escravo à sonegação fiscal, e que deixa para trás um rastro de milhares de vítimas.

Vítimas como dois meninos, de apenas oito anos, que já precisam lutar pela sobrevivência e ajudam as famílias a produzir carvão. Um trabalho duro, cansativo, que compromete a saúde e o desenvolvimento. Sem folga, eles passam o dia inteiro nos fornos, que tem o tamanho exato para uma criança. Um dia inteiro de trabalho rende para esses meninos pouco mais de R$ 7. "Para fazer esse forno eles trabalham mais ou menos um dia para ganhar R$ 13, que dá menos de R$ 7 para cada menino", disse um trabalhador.

A fumaça negra leva embora a infância, os sonhos e a saúde. O decreto número 6.481, de 2008, aponta o trabalho em carvoarias como uma das atividades mais perigosas e prejudiciais para crianças e adolescentes. "Você não percebe, mas, ao ser queimada, a madeira vai soltando partículas que vão se instalando dentro da estrutura pulmonar e também nos brônquios, que podem gerar futuramente algumas doenças como a fibrose pulmonar. Depois de instalada, é como se o pulmão fosse se tornando um pulmão de pedra", explicou a pneumologista Cinéia Martins.

A Polícia Rodoviária Federal afirma que fiscaliza o transporte de madeira nas rodovias do Espírito Santo, em conjunto com os órgãos ambientais, Receita Estadual e Federal. No entanto, o trabalho fica prejudicado por conta da origem das notas fiscais e das guias de trânsito. A PRF informa que os documentos podem ser originais, mas com informações falsas, impossibilitando a PRF de verificar se a madeira é legal ou não.

Nesta quarta-feira (27) você vai acompanhar mais detalhes sobre a denúncia da Máfia do Carvão e conhecer as condições de vida dessas pessoas exploradas. Vai ver que o crack já é usado como moeda de troca no mundo do carvão e vai saber também como é o trabalho da polícia para tentar impedir o avanço destes crimes.

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