domingo, 31 de julho de 2011

Aparece mais um funcionário-fantasma no Dnit, chamado Conde Neto. Detalhe interessante: foi nomeado em ato assinado por outro funcionário-fantasma, Fred Dias.

Carlos Newton - tribunadaimprensa.com.br
As irregularidades não param de surgir no Ministério dos Transportes. A exemplo do funcionário-fantasma Frederico Augusto de Oliveira Dias — amigo do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) e descoberto pelo jornal  “Correio Braziliense” despachando com prefeitos em Brasília —, a Superintendência do Dinit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em São Paulo também tem uma versão própria do “doutor Fred”, como é conhecido.

Da mesma forma como Fred Dias agia em Brasília, na sede do Ministério dos Transportes, onde tinha sala própria sem ser funcionário e assessorava diretamente o então ministro Alfredo Nascimento, em São Paulo o funcionário-fantasma Condiberto Queiroz Neto, apelidado de Conde, não tem vínculos formais com o Dnit, mas despacha na sede da Superintendência paulista, usa a estrutura do órgão e dá ordem aos servidores, que são chamados para “despachar” com ele.

Condiberto também é apontado como interlocutor das empreiteiras com o Dnit. Assim como Fred Dias, também foi “indicado” para a função de “funcionário-fantasma” pelo deputado Valdemar Costa Neto, secretário-geral do PR, que detém o controle do partido e estende sua influência às superintendências estaduais do Dnit em todo o país. O parlamentar também tinha sala privativa no Ministério e despachava normalmente lá.

No Dnit de São Paulo, Conde Neto foi flagrado trabalhando normalmente, terça feita passada, pela reportagem do Correio Braziliense, cujo telefonema foi atendido pelo funcionário-fantasma em seu ramal exclusivo. As servidoras da recepção e a secretária que repassou o telefonema informaram que Condiberto é o “assessor da superintendência”, comandada por Ricardo Rossi Madalena, filiado ao PR, que tem na folha corrida uma condenação por peculato a dois anos e quatro meses de prisão por desviar sacos de cimento da Prefeitura de Ipaussu, no interior paulista, quando seu pai era prefeito (1989 a 1992). Ele recorreu e conseguiu cumprir a pena, reduzida a um ano e dois meses, em regime aberto.

Quanto a Conde Neto, na verdade é ex-funcionário. No início de 2008, uma servidora foi exonerada do cargo para que o afilhado de Valdemar da Costa Neto fosse encaixado na superintendência em São Paulo, nomeado para coordenar a administração hidroviária do órgão em São Paulo. Mas, na briga por cargos para acomodar os aliados políticos do PR, ele acabou exonerado, até ser novamente nomeado, em agosto de 2008. Dessa vez, para a coordenação hidroviária no Rio Grande do Sul. Porém, mesmo lotado no cargo no Sul do país, sua rotina de trabalho continuava em São Paulo.

Somente em dezembro de 2008, o ex-diretor do Dnit Luiz Antonio Pagot assinou a cessão do servidor do Rio Grande do Sul para São Paulo. Detalhe: o encaminhamento do retorno de Conde para a superintendência paulista é assinado por Frederico Augusto de Oliveira Dias, o outro funcionário-fantasma do Ministério. Conde compunha oficialmente a comissão de licitação do Dnit de São Paulo até dezembro de 2009, quando foi exonerado.

Apesar de estar frequentemente na sede do Dnit em São Paulo, ser conhecido pelos funcionários e ter espaço físico para despachar, Conde Neto alega que atua como “consultor da área de Meio Ambiente” para o órgão e nega ter estrutura de trabalho no departamento. “Eu trabalhava no Dnit, mas agora estou prestando consultoria. Trabalho na área de meio ambiente. Fico onde todo mundo senta”, justificou.

Na verdade, ele age como se fosse assessor da superintendência do Dnit, na área das rodovias. Mas a liberação de terrenos que fazem parte do inventário da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que tem mais de 50 mil imóveis, também passa pela análise dele.

Conde Dias é ligado ao deputado federal Milton Monti (PR-SP), acusado por Geraldo de Souza Amorim, ex-administrador da chamada Feira da Madrugada, de pedir propina para manter o empresário à frente do comando do mercado paulistano. A feira é um comércio que abriga 4,5 mil feirantes em terreno que pertence à RFFSA na capital paulista. Outro detalhe: Conde Neto doou R$ 8 mil para a campanha de Monti em 2006. Portanto, assim fica tudo explicado e justificado, na formação dessa estranhíssima quadrilha.

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