domingo, 1 de maio de 2011

CULTURA: Hora de mudar o jogo

Rafael Abreu - www.seculodiario.com.br 
O TV on the Radio não é tanto uma banda quanto um time de futurólogos sonoros. Formado por um grupo de compositores, músicos e produtores tão exímios quanto originais, andou a passos largos, durante o curso da última década: a turma do Brooklyn surgiu como promessa, apontou novos caminhos pro funk, pro soul e pro rock, estabeleceu a própria credibilidade, tornou-se monoliticamente boa e lançou duas (ou uma, de acordo com quem você estiver falando) obras-prima. Em suma: tornaram-se referência estética em pouco mais de dez anos.




Nine Types of Light, situado nessa trajetória, mostra uma banda um pouco desacelerada. Pois o ponto que nunca faltou na música dos caras, mesmo quando a qualidade não era impecável, era a audácia. Uma sensibilidade vanguardista que os equilibrava entre um futurismo engrandecido (e pretensioso) e a tendência que o mundo tem de permanecer no mesmo lugar já apontava a terceira via que Dave Sitek e companhia começaram a representar com Return to Cookie Mountain.

Em seu quinto trabalho, os rapazes inclinam um pouco para uma postura mais segura (e quase preguiçosa). A maioria das faixas mostra uma inércia bem executada, a realização (mas não necessariamente um aprofundamento) de um modelo estabelecido por eles mesmos. Isso funcionaria com qualquer outro artista pop, mas a verdade é que, dentro de uma carreira que pautou a catarse pelo tanto de cartas novas que se colocavam na própria mesa (de som), a iniciativa cheira a conformismo.

É desse modo que a o gingado cerebral e a ambigüidade de sons que parecem tão orgânicos quanto sintetizados - marcas, a essa altura do campeonato, registradas do quinteto - se faz diferente mais por seu conteúdo que outra coisa. Permanece uma poética ironicamente sombria (“Quem que tem pra jantar?” canta Adebimpe, em Forgotten), só que acrescentada a momentos mais piedosos e vulneráveis como os de Will Do, uma declaração de amor resignada com o próprio destino (o fracasso).

Há de se enfatizar que nada, aqui, é ruim. O problema é que, na melhor das hipóteses, as composições se põem ao lado da maioria das coisas que a o conjunto já realizou, enquanto o lado pior da balança mostra uma banda viciada nos próprios truques. É assim que Second Song, Forgotten e Killer Crane mostram as facetas mais suaves de um quinteto que se especializou na urgência de caos organizados que se vêem em Golden Age, Let the Devil In ou Staring at the Sun.

Keep Your Heart e No Future Shock, por outro lado, trabalham uma dinâmica semelhante a seu lado mais agressivo, mas aplainada, acovardada por uma produção que faz só o que se pede ou muito pouco do que não se espera. O fator surpresa, dolorosamente ausente, nesse lançamento, não é um imperativo a todos, mas um disco como Nine Types of Light soa como um retrocesso, ou ao menos uma acomodação, pelo próprio modo com que a banda se apresentou, ao longo de sua existência.

É desse modo que, após a ode de pop funkeado, eletrônico, nervoso e dançante que foi Dear Science, os nove tipos de luz que o TV on the Radio nos mostra são tremeluzentes, pouco vigorosos. Não chega ao ponto tão conhecido em que bandas veteranas (ou quase isso) se vêem transformadas em cópias menores de si mesmas (um clichê que não se cansa de se fazer necessário, hoje em dia), mas, do jeito que a banda toca, talvez seja a hora de mudar o jogo.

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