terça-feira, 29 de março de 2011

A casa caiu

Editorial 

 
O poeta Vinícius de Moraes é o autor da singela música “A casa”, que quase todos conhecem. Era uma casa muito engraçada/não tinha teto não tinha nada/ninguém podia entrar nela não/porque na casa não tinha chão... E vai embora.

A “casa arrumada” legada por Hartung a Casagrande é um pouco semelhante à casa de Vinícius. À medida que a letra vai avançando, o eterno “poetinha” vai mostrando que a casa, na verdade, não tinha nada.

Casagrande, que há 88 dias tenta entrar na “casa arrumada” de Hartung, deve ter ficado perplexo ao abrir a porta e perceber que a tal casa era vazia. Não havia nada. De tão oca, Casagrande ouve a voz de Hartung ecoando no vazio: “A casa está arrumada”... A frase vem acompanhada de um riso funâmbulo de causar arrepios.

Sem chão, porque a casa não tem chão, como escreveu o poeta, Casagrande, perdido, tenta achar os principais cômodos da casa. A saúde, que voltou para o noticiário esta semana, ele foi encontrá-la em um porão acanhado e úmido, bem longe dos olhos dos curiosos. Abandonada, subjugada à própria sorte, cheirando a morte.

Para a educação, Hartung improvisou um puxadinho mal-ajambrado, que nos dias chuvosos desmancha feito açúcar e põe em risco a vida de professores e alunos.

Desiludido com as instalações, Casagrande foi seco ao colchão da casa. Afinal, seu antecessor prometera deixá-lo recheado com R$ 1 bilhão. O novo governador pensou que o dinheiro poderia, ao menos, ser usado para levantar as paredes da casa e poder, finalmente, abrigá-lo das “intempéries” que partem de todos os lados e têm castigado esses primeiros meses do seu governo.

Para aumentar a sua decepção, Casagrande topou com um colchão quase vazio. Foi enganado mais uma vez. Novamente, o governador ouve, mais uma vez, a gargalhada escarnecida reverberar pelos espaços vazios e sente um arrepio ainda mais funesto subir-lhe pelo cangote.

Intumescido com tudo que viu, ou melhor, que não viu, Casagrande tenta desesperadamente se encontrar na casa. Desnorteado, ele só foi perceber agora que a casa só tinha a fachada, idênticas àquelas que são construídas nas cidades cenográficas de Hollywood.

Voltando “A casa” sem chão de Vinícius, no último verso o “poetinha camarada” deixa uma dica para os mais desavisados sobre a localização da casa. Fica na rua dos bobos número zero.

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