domingo, 14 de agosto de 2011

ES: PAPO DE REPÓRTER: As eleições 2012 já começaram. Para 2014, reeleição de Casagrande depende da conveniência de Hartung

Rogério Medeiros e Nerter Samora - www.seculodiario.com.br

O Papo de Repórter desta semana trata do aquecido debate das eleições municipais do próximo ano. Apesar da indefinição em torno da candidatura do ex-governador Paulo Hartung, o quadro não é favorável ao peemedebista. O engarrafamento de pré-candidatos não deverá ser problema ao ex-governador. As ameaças partem da candidatura da ministra Iriny Lopes. Mas o que esse quadro poderá influenciar nas eleições de 2014 é o que veremos neste bate-papo.
 
 
Nerter: – Queiram ou não queiram, as eleições municipais estão a todo vapor. Nos municípios, as principais lideranças já estão se movimentando. Os partidos se organizando. E a classe política fica com uma certeza: as principais eleições vão passar pelo novo núcleo duro da política capixaba – o ex-governador Paulo Hartung (PDMB), o governador Renato Casagrande (PSB) e o senador Ricardo Ferraço (PMDB). Não podemos tirar deste grupo o senador Magno Malta (PR), que já distribuiu algumas cotoveladas e quer assento nessa mesa.
 
Rogério: – Não vejo que ele tem assento. Ele tem voo próprio. A coisa do Magno é na rua, com microfone na mão, ganhando voto, distribuindo voto. E também é o principal alvo do Paulo Hartung. Porque o esquema do Paulo é imenso. Pra você ver, o ex-governador não tem compromisso com o partido dele, aliás, ele nunca teve compromisso com partidos. Ele distribui candidatos por todos os partidos. Ai ele vai trabalhando por trás das cortinas. Vai usando os instrumentos que ele tem, já que possui uma posição privilegiada no governo Casagrande. Todo mundo que ele colocou obedece ao comando dele. Está no projeto dele ganhar as eleições.
 
Nerter: – E quanto ao governador?
 
Rogério: – O Renato tem uma postura, digamos assim, democrática. Ele quer estar nesse processo sem prejudicar nenhum dos partidos que fizeram parte da coligação que ele venceu. Esse é uma eleição muito apropriada para PH. Ele tem o alvo, que é o Magno Malta. No longo projeto de poder dele, ele precisa eliminar o senador. Além de saber lidar com o governador Renato Casagrande, como se ele livrando-se do Magno não ameaçaria Renato. Como se dissesse que a presença do socialista é como se fizesse parte dos planos de hegemonia até 2025.
 
Nerter: – Está dando certo. Até esse recado mais recente do Casagrande à sua equipe demonstra isso. O fim da qualquer animosidade dentro da equipe do socialista com essa presença de gente ligada a Hartung demonstra que estão na trilha desse plano hegemônico...
 
Rogério: – Não acho bem na trilha. Não vejo como você está vendo. Você tem que levar em consideração que o Renato chega com uma circunstância especial. Ele não tinha estrutura no partido para suportar esse sistema do Paulo, com Judiciário, Ministério Público. No passado já falamos muito sobre isso. Esse esquema não se derruba da noite para o dia, nem em um mandato. A minha expectativa é de que o Renato Casagrande iniciasse esse desmanche, mas não é o que ele viu – estamos pensando como Casagrande. Até que as leituras que você faz são interessantes. Quando você faz a leitura diz que o governador é de transição, ele se adapta a esse sistema. E como o Paulo é uma pessoa diabólica, que se municia de elementos de ataque, ele já mostrou ao Casagrande: “melhor agente caminhar junto”, “olha só, tem o Senado, é melhor irmos juntos”. É um cenário que estamos projetando.
 
Nerter: – Mas aí surge um grande conflito. Como fica Hartung, o grande líder político do Estado. Senado em 2014? A retomada de um projeto nacional? Ou apenas um ensaio para retornar nas próximas eleições? Ou então, prefeito de Vitória logo agora? São muitas interrogações no ar.
 
Rogério: – Primeiro eu não acredito que ele seja candidato a senador, ele deixou de ser quando abriu mão da disputa ainda na cadeira de governador. O Paulo tem muito pepino. Tem muitos atos e muitos negócios que ocorreram no governo dele que se bater na Justiça como senador vai direto para a Justiça Federal. O negócio do Paulo é a Justiça estadual. É só ver como ele foi tratado no TRE com crimes eleitorais cometidos à luz do dia. Nem vai ser candidato a prefeito de Vitória. Tem muita gente com voto. No PSDB tem o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas, o deputado federal César Colnago tem voto. Até o Manato, que é a da igreja, tem. O deputado estadual Luciano Rezende tem voto...
 
Nerter: – Como tem gente com voto...
 
Rogério: – E o Paulo não tem coragem de enfrentar a ministra Iriny Lopes (PT). Porque com essa ele não vai poder jogar lama como joga nos outros. Ela é a candidata da situação, candidata do ex-presidente Lula, candidata da presidente Dilma Rousseff. Com essa eleição repleta de candidatos, ela tem garantido o segundo turno. Ele vai entrar nessa bola divida? Não entra. Se voltar, ele quer ser governador porque o saco de maldades ainda tem muita maldade a ser distribuída.
 
Nerter: – Prova disso é essa mudança no Tribunal de Contas que já quase a feição dos aliados de Hartung. Com essa conversa de dolo, vai se transformar no tribunal da ficha limpa, ou melhor, o tribunal dos “fichas sujas”. Porque só passa quem ele quiser. Para isso, ele colocou um dos seis quadros mais inteligentes, o presidente interino Sérgio Aboudib. E os que entraram depois para serem regidos por Aboudib, comandado por Hartung. Ninguém executa melhor as ordens do Paulo do que o Aboudib. Voltando ao assunto: quem vai ser o candidato dele em Vitória?
 
Rogério: – Nem ele sabe ainda. Porque ele pode usar vários deles. Se acontecer uma situação, ele pode usar o Luciano, que talvez seja o preferido dele. Até pelo perfil, mais dócil. Porque o Lelo Coimbra é pesado. Uma outra oportunidade é recorrer aos antigos companheiros que construíram tantas escadas para ele chegar aonde chegou que são o Luiz Paulo e o César Colnago, ambos do PSDB, partido que ele desidratou nas ultimas eleições, é bom frisar. Agora ele ser candidato eu não acredito. Ele não tem coragem para isso. O Paulo é um homem da escuridão da noite, quando se torna invisível. Interessante que tem político que tem sobressalto pensando que é o Paulo. Porque ele ganhou muito com os oito anos de maldade, pois criou na cabeça dos políticos – é o que ouço todos os dias – a imagem de que todo mundo tem medo dele. Ele virou um pavor.
 
Nerter: – Essa política do medo contribui para que a classe política seja para lá de dócil. Volta e meia um pouco ruidosa, mas ninguém levanta uma palha contra Hartung. Caso se confirme sua previsão, como fica a situação do Casagrande, já que vai ser o confronto do ex-governador contra o chefe do palácio Anchieta?
 
Rogério: – Veja, vamos tentar entender o Casagrande. Ele é um governador realmente de surpresa. Ele ia disputar a eleição contra Ricardo Ferraço. Com poucas possibilidades de vencê-lo. Na época, é bom lembrar, já que esses caras chegam ao governo e logo esquecem. O único veículo que noticiava a candidatura de Casagrande, quase diariamente, era o Século Diário. Que acompanhava os passos, falava da sua candidatura. Porque a imprensa corporativa ignorou a campanha, você se lembra bem disso. O Casagrande deixa claramente que vai ser um governador de transição e que não tem munição suficiente para enfrentar, por exemplo, o Paulo Hartung numa eleição em 2012. Ele acabou de sentar na cadeira e já tem uma eleição, isso é ruim para o governo. Na hora que ele tem de desmontar o esquema do Hartung, pesado vamos repetir, quais são as chances? Vamos inverter a mão e te faço a pergunta: quais chances que ele tem para se dar bem na eleição de 2014? Na coluna dessa sexta-feira (12), mostrei que auxiliares dele, como o Guerino Balestrassi (sem partido), estão trabalhando. É difícil. A moderação dele tem sentido. O que a vida política do Espírito Santo precisava era que ele começasse a desmanchar esse sistema política.
 
Nerter: – Sem um bom desempenho nessas eleições, a reeleição de Casagrande depende... se for conveniente a Paulo Hartung. Contribuindo que a política capixaba continue a girar em torno de Hartung.
 
Rogério: – O perfil de PH e o perfil de ACM são parecidos. No mandar, eles são iguais. A diferença é de que ACM batia e mostrava a mão. PH bate e esconde a mão.

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